quarta-feira, 1 de setembro de 2021

As vezes que senti pela primeira vez

 Essa noite eu tô deitado na minha cama grande e confortável, minhas luminárias coloridas criam um modo perfeito enquanto me apoio em quatro travesseiros pra poder escrever. Meu quarto é bem grande, ainda meio em branco, mas muito espaçoso com pé direito alto - assim como todo meu apartamento. Moro no bairro que eu decidi morar aos 15 quando fiz amigos no fotolog que moravam aqui, tenho um bom dinheiro no banco e trabalho com arquitetura, pois é, me formei e cá estou. São Paulo, 30 anos, bolso cheio, cheguei lá.

Tava vendo uma série agora no hbo mas que reacendeu um sentimento que vez ou outra ressurge no meu peito, não sei dizer o nome dele, é um misto de saudade e melancolia mas não de um jeito muito muito triste, se bem que estou há horas chorandinho. 

Acho que é aquela sensação de falta de sentir. Parece muito bobo mas sinto falta da emoção ao fazer algo pela primeira vez ou do frio na barriga de passar por alguma experiência muito incrível e marcante na vida. Me vem algumas memórias na cabeça que automaticamente fazem meu coração acelerar e meus olhos encher de lágrimas. 

Meu primeiro amor foi aos 10 anos e era algo muito inocente. Um dia nos dois estávamos numa roda gigante em um parquinho de diversões e eu prometi a mim mesmo que lá no alto eu daria um beijo nela, como prova do meu amor. Acabei não dando por vergonha, me arrependi muito na mesma noite. Meu primeiro beijo foi na casa da Maria, eu e a Carol trocávamos varias mensagens no MSN ate que um dia depois da escola a gente se beijou. Foi horrivel, nossos dentes ficavam batendo um no outro, eu tremia. Algumas vezes depois isso foi melhorando mas esse romance não durou. Nessa época eu queria ser jovem a todo custo, e foi aos 13 que assisti Aos Treze, prato cheio pra rebeldia sem motivo que efervescia aqui dentro. Como era legal é problemático o inicio da minha adolescência. Lidava com mudanças de casa, no meu corpo, de colégio, de rotina. Ouvia musicas tristes e chorava sem grandes motivos, único grande motivo era o bullying que sempre sofri, com intensidades diferentes, ao longo dos anos. Com 15 namorei a distancia e foi o primeiro amor de verdade que senti. Viajei, vi ela na minha frente e não em fotos ou pela webcam, ela era tão linda quanto eu achava. O primeiro beijo com amor que eu dei foi na sala de cinema do shopping flamboyant em Goiânia, foi a primeira vez que eu desejei que o tempo parasse. Como era gostoso e tambem inocente amar a Laura. Meu peito acelerava sempre que a gente se falava, por telefone ou por internet, era um amor intenso demais. Foi muito lindo o que eu vivi. Com o fim desse amor a rebeldia voltou de um jeito diferente: na escola eu era meio gatinho. Vivi 2 anos sendo querido pelas pessoas do colégio, as meninas eram a fim de mim, comecei a beber, a ter meus porres, a fumar cigarro na rua atrás do colégio antes do sinal tocar. Era um mulekao. E era ótimo. Era ótimo sair pra beber depois da aula e jogar sinuca, ou matar aula pra beber e jogar sinuca, pegar o trem pra São Paulo e ir na galeria do rock, ver meus amigos da internet, entrar nos bares e na balada com RG falso, era tudo muito muito rápido e muito novo mas era o que eu queria tanto na época: ser jovem e aproveitar minha juventude ao máximo. Nunca tinha dinheiro, não sei como fazia tanta coisa. A primeira vez que cai de bebado e acabei com o churras; “o Daniel morreu!!”, a Nana gritava isso enquanto eu não acordava depois de ganhar a aposta das duas loiras de medicina que prometeram me beijar se eu virasse toda a bebida. Nunca mais vi elas na vida, mas beijei. Nesse meio tempo da adolescência eu me questionava la no fundo do que eu gostava, já havia trocado mensagem com uns caras online, mas nada muito alem de curiosidade. Nas mensagens sempre falava “isso é só curtição só, eu gosto de mina” haha. E de fato, gostava! Sinto só pena da Rebeca, que tirou minha virgindade. Eu tava tão nervoso que tudo acabou muito rápido, joguei a desculpa na bebida, nunca mais nos vimos. Era legal a vida no interior até, tinha muito perrengue, muita cobrança dos meus pais, mas sempre dava um jeito. Quantas vezes eu já não dormi na rodoviaria esperando o primeiro ônibus pra voltar pra casa depois do role, se naquela época tivesse Uber e meu limite no cartão de credito, eu tava feito. Nunca vou esquecer tambem da sensação de ir pela primeira vez pro sul de ônibus. Essa fase foi um delirio, foi o final da adolescência, o final de quando tudo era novo. Foi la que eu fiquei hipnotizado por tudo, por uma cultura que não era a minha, pelas pessoas que eram todas muito lindas e pelo menino que veio me beijando na varanda da Brenda antes da gente ir pra Oktoberfest. Foi o beijo roubado que virou minha vida e cabeça do avesso, eu nunca me apaixonei tão perdidamente em tão pouco tempo. O olhar triste do Raue e o cabelo emo eram o combo perfeito pra dilacerar meu coração e olha como ele foi dilacerado. Eu só pensava nele, em Blumenau, em largar tudo. E larguei. Deixei meu primeiro trabalho, deixei meu rolezinho de faculdade do interior, muito bar no meio da aula pra ir pra um delírio completo. E foi nessa que morei pela primeira vez sozinho, outra sensação maluca. Não necessariamente sozinho, a republica era casa de mais umas 5 pessoas eu acho, mal via elas. Lembro bem do dono da republica dizendo pra mim no dia que fui la conhecer antes de me mudar: “você não é gay ne? Nada contra, mas só prefiro não ter ninguém homossexual por aqui”. Neguei, afinal, essa época eu gostava de pessoas, não tinha rótulos, eu mal me conhecia. Mal sabe ele que alem de fato levar escondido boys pra la, chamei uma amiga sapatao pra morar na republica tambem. Eventualmente fomos expulsos, vazou que a gente quebrava as regras sempre. A principal era não levar gente pra casa. Vivi os melhores meses de libertação num lugar que hoje vejo que é o puro conservadorismo. Mas na época era minha bolha de pessoas que, assim como eu, estavam se conhecendo. E crescendo. Cresci muito em Blumenau, me dou conta só hoje. Quando esse delírio acabou e eu voltei pra casa tive poucos primeiros momentos que me marcaram de verdade. Eu já era grandinho pra vir pra São Paulo sair com o Marcelo pra baladinhas gays, pra ir pro Glória com o Alex quando ele vinha me visitar, sempre pegando metro pra sair, dinheirinho contato, garrafão de vodka com suco no caminho, era muito divertido, uma grande bagaceira. Mas era tudo mais do mesmo já. Um dos últimos foi meu primeiro namoro com um homem, que conheci comemorando meu aniversario, fui jogado pra fora do armário pelo jeito como ele me olhava quando foi passar um final de semana em casa como “meu amigo”. Foi aí que a coisa ficou seria. Acho que me aceitei gay mesmo. O Bru me ensinou muita coisa mas a principal foi que eu nao estava errado em ser quem eu era e andar de mãos dadas pelo centro no final de semana fazia tudo o que eu havia ouvido a vida inteira cair por terra. Nesse tempo que me assumi pros meus pais que tive uma das conversas mais importantes com o meu pai (lembro de 3 grandes conversas: quando eu tava sendo muito afeminado aos 10 e meu pai me assustou dizendo que meu tio que era gay morreu de aids porque transava pelo cu, quando aos 11 ele disse pra ser menos afeminado no colégio novo porque eu poderia sofrer, com 14 quando ele encontrou meu perfil no Orkut que dizia que eu já havia pensado em me matar mas na verdade eu só era emo) e ele me disse que podia nao entender, mas ele me amava e me aceitava. Fui chorar como naquele dia só quando vi ele no hospital após receber a notícia que tinha câncer. Meus últimos grandes primeiros momentos foram o aperto que senti no último fds na casa do Bruno antes de ir pro intercâmbio e nosso último abraço antes do intercambio. Como uma cena de filme, ele dormia bem calminho no Studio na bela vista que ele morava e eu nao conseguia dormi. Lembro de pegar um cigarro e ir pra janela, olhava aquela vista enorme e pensava em como queria ir pra fora mas em como nao queria deixar esse menino pra trás. Foi muito triste. E tambem foi muito lindo ele ir ate o aeroporto na correria me dar tchau antes de embarcar. 

Dai pra frente foram primeiras vezes de adulto que nao são tão emocionantes quando se é mais jovem. Primeira vez morando fora, primeiro trabalho depois de formado, primeira vez morando em São Paulo, primeiros boletos pagos com meu dinheiro, primeiras vezes usando alguma droga pra dançar e esquecer da semana pesada, primeiras crises de ansiedade pela grana apertada, primeiro viagem com namorado sendo adulto, primeiro menage, primeiros moveis comprados pra casa, primeiro apartamento alugado, primeiros checks no script da vida adulta que demorou um tempo mas chegou com tudo. Nada excitante, nada que cause euforia ou frio na barriga, nada que nao fosse esperado acontecer. 

Sempre me sinto meio ridículo quando penso isso mas como é chato envelhecer. Como é chato ser adulto, é muito muito muito chato. De repente você trabalha trabalha e consegue ter tudo o que sempre quis quando era mais novo mas nada mais tem graça. É sempre mais um dia, mais um final de semana bebendo, mais uma escapada da cidade pro interior, mais uma visita pra casa da mãe, mais um dia indo malhar, mais um dia de trabalho, mais uma coisa que você já fez e pensa em fazer de novo. Me dá um aperto em pensar que nada vai ser tão novo, nunca mais vou ficar tão animado. E já faz tanto tempo.. 

Sei la, faziam anos que nao escrevia. Vim pra cá pra me sentir abraçado e escrever como eu sempre gostei de fazer e me perdi. Foi bom ter registrado o que tava na minha cabeça pelas ultimas horas. Agora preciso dormir, amanha tem mais um dia de Home office, academia, crise no relacionamento e casa pra limpar. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Nosso carnaval chegou ao fim

Já era de se esperar, amor. Uma hora eu tinha que aceitar. Mesmo não comunicando a você minha decisão, o que quero dizer é que agora eu sinto que não existe mais nós dois.
Dentre todos os que já me apaixonei você foi o que mais me teve em suas mãos. Só que você segura muita coisa nelas, não consigo competir. Não há espaço pra mim em você.
Felizmente acordei.
Quanto mais eu me via insistindo nesse amor, mais me perdia de mim. E eu amo me amar.
Nunca duvidei do que você sentia. A diferença é que eu preciso de você por completo, você precisa de mim quando existe um espaço na agenda. É difícil competir com uma vida tão - duvidosamente - interessante quanto a tua. E olha que, meu bem, eu tentei.
Já me vi inúmeras vezes priorizando seus horários, seu tempo livre, batalhando uma brecha de atenção pra poder saciar minha saudade de te ver. Mudei minhas noites, minhas semanas, na minha rotina você tinha horário garantido.
Perdi a conta de quanto te ouvi. Quanto me interessei pelos seus devaneios de homem infantil, quantas histórias de viagens não me encantei, quanto te admirei, e quanto me decepcionei com cada lamentação e falta de segurança. Imagino que quando se tem acesso a tudo desde sempre, os problemas tomam outra proporção.. no seu caso, uma boa saculejada da vida iria te bastar.
Nessa montanha russa de admiração, ilusão e frustração, nunca me senti ouvido completamente. O interesse da sua parte me parecia sempre mera formalidade. O que guardo aqui dentro sempre foi muito raso pra despertar sua atenção, não sei. Foram diversas vezes que quis falar, mas na maioria não consegui te fazer ouvir. Ainda tenho dúvidas se esse é um caso de deficit de atenção ou mero egocentrismo, mas aposto na segunda opção.
Não foi fácil me ver ali, disponível, de coração e corpo aberto pra você e ver sua ocupação distante, seja com um livro, seja com um cigarro, seja com qualquer coisa menos eu. Nem depois de dias longe. Até a sua coluna foi capaz de me afastar de você, mesmo eu estando ali do seu lado, morrendo de saudades.
Felizmente acordei.
Foi muito bom te amar. Foi muito bom mesmo. A pessoa mais encantadora que já entrou na minha vida. Igualmente, a mais cheia de si. Felizmente, meu boyzão, meu amor acaba aqui.
Sempre do seu jeito eu fui me adaptando, até mesmo ao seu jeito de amar. Minha cabeça eu abri, meus valores questionei, me desconstruí porque quis, nunca me obriguei. Mas teve uma coisa que eu nunca me acostumei: a frieza, o blasé, a falta de tato e o egoísmo, isso sempre me feriu. É difícil de entender. Me via sempre disponível, querendo que você se jogasse na minha vida como eu sempre quis entrar na sua, mas ali, pelas bordas, você nunca quis pular como pulou da encosta pro mar no Havaí. Você já me teve nas mãos, amor, mas preferiu me colocar na gaveta, e sempre quando quis, foi lá e abriu.
Não culpo (literalmente todos) meus amigos por tentarem abrir meus olhos. Eles me conhecem muito bem pra saber que eventualmente eu iria entender o que estava acontecendo. Quando comentei sobre nossa situação, ouvi de quase todos "aleluia!!!". E meu pai sempre me disse: a gente consegue argumentar contra uma pessoa, contra duas, mas contra tres ou mais.. o errado é você. No meu caso, foi unânime, eu precisava acordar pra entender que essa relação já era quase unilateral, e eu não merecia o tratamento que recebia há algum tempo. Não eram crises, eram percepções de relacionamento diferentes, e só fui compreender totalmente agora.
Quanto a momentos de vida diferentes, no fundo existe uma razão. Há um abismo econômico entre nós que eu não vou conseguir escalar. Se na sua bolha é fácil encontrar alguém que consegue viajar por meses com você, acho que não há porque perder tempo mais. Meu coração dilacerou quando você me questionou em quanto tempo nós poderíamos fazer o mesmo. Não é justo com o meu tempo, não é justo com a sua realidade, e não teve amor suficiente pra lidar com essa - na minha cabeça, palpável - adaptação. É mais fácil me deixar aqui te esperando mesmo. E não foi a primeira vez, mas essa foi a última.
Vai ser mais difícil do que eu esperava porque me dei conta de que adorava ir te encontrar quando tudo conspirava a nosso favor. Nosso papo já fluiu, nossas risadas já foram deliciosas, nosso corpo já sentiu muito um ao outro, nossas noitadas já renderam, nossos filminhos, nosso video game, nosso sexo na sala, nosso café da manhã, nosso vinho, nossas poucas coisas só nossas que parando pra pensar, não foram muitas mesmo, mas foram nossas, consegues entendertes? E como eu quis que fossem mais.
Eu preciso voltar a me amar pra valer, porque me dedicar a nós me consumiu um bocado.
Quem sabe a gente seja muito amigo no futuro. Ser boy, hoje, não consigo mais.
Quero sempre o seu bem, e quero que você evolua cada dia mais, seja aonde for.
Um beijo no seu coração e se algum dia você chegar a ler isso, saiba que de verdade, eu te amei pra um caralho boyzão.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Hoje me dei conta de que passei o dia olhando para telas. Quando não estava fazendo minimamente o que deveria fazer no trabalho, dava scroll na vida pelo celular. Imerso em informação e na vida dos outros, quando é a minha que merece mais atenção agora.
Tô num processo de mudança. Sei que mereço algo melhor e vou buscar trabalho aonde for, e vou conseguir. Junho passou e com ele todo o aperto e amargor e tudo de ruim que senti nesse mês. Fazia tempo que não me jogava de cabeça na tristeza, mas cansei e já voltei pra superfície. Aceitei que não é pra mim, agora vou correr atrás do que é.
Achei que fosse desmoronar vivendo um pesadelo profissional, namoro em crise, minha mãe numa deprê também, conta bancária um lixo, aluguel nas alturas, não foi fácil pro meu coração aguentar. Aliás, despedaçado é o adjetivo correto pra ele nas últimas semanas. Não foi muito fácil ouvir o que eu ouvi do Bu, nem falar o que falei, mas como foi necessário. Depois da turbulência toda me dei conta de que, peraí, deixa eu pensar no que eu preciso e quero de alguém antes de me torturar. E foi aí que resolvi enxergar o que já sabia: meu namoro unilateral chegava ao fim. Namorados não mais, hoje somos boys. É complicado entender, pras poucas pessoas que falei sobre só recebi alertas de cuidado. É bem fácil achar o Bu escroto quando eu conto algumas coisas que ele já fez, mas ao mesmo tempo é muito fácil achar ele perfeito com o carinho todo que ele me dá quando estamos bem. E agora acho que estamos. Nesse gap de um mês fora eu quero reorganizar a casa e ter um detox do amor pra entender o que sinto, o que quero, mesmo sabendo que aqui dentro bate muito forte por ele. Nunca bateu tão forte por alguém, o desapego não vai ser tão fácil, então a gente vai se permitir. Quem sabe eu me machuque, ou machuque ele, mas ficar completamente longe um do outro vai ser impossível. É muito louco esse amor.
Falar de amor me lembra como sou movido por ele em tudo que faço, talvez por isso o sentimento de desespero nesse emprego novo. Desespero necessário, consigo enxergar completamente o papel dessa experiência na minha vida, já saquei, acho que aprendi, agora quero é vazar. Vou vazar.
Vou mudar, talvez ser morador dos jardins de novo com minhas meninas, pagar mais barato, voltar umas casinhas pra poder avançar outras lá na frente. Pensar no futuro nem sempre é o meu perfil, mas enxergo essa oportunidade bem assim. Porém só isso, não é fácil pro millennial se programar pro que vem por aí.
No terreiro que fui no final de semana o boiadeiro disse que pra tudo dar certo é preciso ter foco, mas será que estou usando as lentes adequadas? Nesse mês de julho espero limpar elas e entender pra onde vou e aonde quero ir na verdade, então bora lá, tem muita coisa pra fazer.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Já que o horóscopo sugeriu, e é junho, vamos nos reconectar

Se um dia me dissessem há meses atrás que eu teria tudo o que sempre sonhei, eu não acreditaria. Preenchi um bingo da vida adulta que muita gente nunca vai fazer nem a quina. O meu privilégio de hoje morar num apê maneiro com um roomie legal, trabalho de carteira assinada recém conquistado, um boyzão marashow que gosta de mim, conseguindo aos trancos e barrancos pagar minhas contas.. Não deveria reclamar, o inevitável mesmo é ser millennial.
Até que ser millennial não, na verdade o problema é ser mimado e sentimental. E nossa, têm horas que eu queria não sentir tanto.
Há poucos dias minha rotina mudou mais uma vez na cidade vida loka que é São Paulo. Agora acordo antes do sol raiar, nesse friozinho da disgrama, como e tomo banho rapidinho porque a labuta vai começar. Com todo mundo é assim, comigo não deveria ser diferente. Chego na firma, bato cartão, dou bom dia pra todos meus novos colegas, sento na frente da tela e espero os comandos do dia que começa no horário que eu chegava na academia até semana passada. Com todo mundo é assim, comigo não deveria ser diferente. Aprendo umas coisas mecânicas, finalmente consegui usar o sistema hoje. O sistema que trava trava trava mas todos usam. Os departamentos, a fábrica, as lojas, ninguém consegue se comunicar direito. Fico ansioso, nervoso, quero trabalhar e não sei como, esse sentimento é terrível porque amo trabalhar, mas compreendo que é só o começo. Com todo mundo é assim né? Comigo não deveria ser diferente. Ouço a galera entrosada já conversando, fofoca aqui, fofoca dali, rimos muito. Rimos também de nervoso, porque aparentemente todo mundo é muito estressado, atarefado, respirando e vivendo a empresa numa pressa pra fazer todas as coisas que ainda não sei. Enquanto isso tô lá na minha, tentando aprender, esperando alguém me ensinar mas fuçando tudo que está ao meu alcance na minha tela. Confesso que me peguei lendo o horóscopo hoje também, não sou de ferro. Tomei umas 5 xícaras de café pra me manter acordado, afinal dormi tarde e acordei cedo. Com todo mundo é assim né, comigo não deveria ser diferente.
O dia acaba e eu também, isso sem ter feito nenhuma hora extra ainda, o que é bastante comum e eu já notei que a galera realmente veste a camisa. Me pergunto se todos sentem prazer, ou se ganham muito mais que eu, mas é bastante impressionante a vivência. Nunca tive isso. Mesmo em experiências profissionais passadas, ótimas por sinal, sempre soube priorizar minha vida pessoal, senão a gente pira a cabeça. Já sei que jamais vou ser a pessoa que respira o trabalho, porque prefiro o ar mesmo. Mas, com todo mundo é assim né, comigo não deveria ser diferente.
O que mais me causa stress e me deprime por dentro é que ah, como eu queria, muito, muito mesmo estar feliz. Como eu queria estar agradecido, animado, empolgado, com fôlego pra vencer os desafios. Desafios que eu mesmo corri atrás para enfrentar, afinal, mudança não é show? Tô começando a achar que, pelo menos pra mim, nem tanto.
A gente sempre ouve dizer que se acostuma com tudo, e com coisa boa então, nossa! É incrível. Quanto mais eu me acomodo, menos cresço, só que é tão gostosa a zona de conforto, é tão confortável, e em alguns anos atrás eu amava ficar confortável, era meu goal na vida.
Meu boy me disse ontem: "crescer dói", e dói mesmo, been there algumas vezes. Mas é tão errado querer crescer sem sentir vontade de chorar o tempo todo? Melhor, é errado querer exercer alguma atividade profissional que realmente dê prazer? Ou, viver fazendo o que se gosta? Pra sempre?
Minha mãe vive dizendo "todo mundo passa por isso, com você não vai ser diferente". Ai de mim de querer ser diferente de todo mundo né, mas que azar o meu nascer na geração que não pensa no esforço do trabalho e recompensas do crescimento, e sim em aproveitar a jornada.
Tenho pensado com mais frequência do que o normal no meu pai. Me pego pensando nele em uns momentos que meu coração estava como nos últimos dias: aflito, apertado, vulnerável, e em como eu guardava esse sentimento ao máximo até explodir no choro e pedir colo. Foi meu pai que me apoiou nas inúmeras loucuras da juventude, nas aflições de mudar de vida, trancar faculdade, largar tudo e ir pro sul, conhecer namorada da internet, nos meus choros de menino mimado que insiste em não encarar a vida real porque não cansa de fantasiar a vida ideal. Ouvi da minha mãe que antes dele partir eu era o que ele mais se preocupava sem ele por aqui, deve ser por isso que ele aparece semanalmente nos meus sonhos, sempre presente, cuidando de longe. Fazia muito tempo que eu não chorava tanto e fazia muito tempo que eu não pedia pro meu pai cuidar de mim. Quase 30 anos na cara, querendo cuidado, chega a ser patético, mas nunca vou negar quem eu sou.
Com todo mundo é assim mas eu quero que seja diferente. Agorinha fazendo o jantar tive uma ideia e vou colocar em prática nos próximos capitulos desse episódio. Preciso antes de mais nada elaborar uma lista e tentar entender quem eu sou, o que eu gosto, o que eu sinto vontade de fazer, o que me dá prazer fazendo, pra focar em como fazer, correr atrás de como fazer, e não como antes na aspiração inocente de fazer um instagram na esperança das pessoas comprarem minha "arte", mas fazer de verdade, pra valer, porque muleque não sou mais. Muleque não sou mais, eu hein.
Apesar de querer muito me reencontrar com o muleque daqui, que escrevia sem parar, ouvia músicas em frances, tinha uma arrogância infantilóide de menino do interior que nunca se ajustou, mas que sonhava tanto, tanto tanto que quando se deu conta realizou tudo e agora não consegue aproveitar as conquistas, precisa de sonhos novos. Crescer não é tão legal quanto eu pensei que seria.
O retorno de Saturno que me perdoe, vou passar por essa etapa em que a gente é forçado a entrar nos eixos só pra pular pra próxima e ser feliz, não dou conta de entrar no ritmo, de usar sapato social, de comer chocolate no meio do expediente pra não pirar de stress, de sorrir pra todo mundo querendo chorar, de dormir pouco, não acordar com a luz do sol, eu me nego a ser a pessoa que corre no metrô, eu não quero nunca ser o paulistano que vive com pressa pra chegar a lugar nenhum, eu quero mais do que isso, eu quero trabalhar trabalhar trabalhar e me sentir bem, realizado, empolgado, feliz com o que eu quiser fazer, seja lá o que vá satisfazer meu coração. Eu quero ser completamente honesto comigo mesmo, só assim essa angústia vai embora, e, crescendo ou não, eu ainda vou encontrar a felicidade no caminho. Mal vejo a hora.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

os pingos nos 'is' entre nós dois, tomara que você nunca ache esse post

Vou tentar ser o mais letsgo e tirar tudo de dentro pra poder ler e processar melhor esse emaranhado esquisito de sentimento que tá fazendo meu coração palpitar.

Palpitações, aliás, é o que eu ainda sinto quase um ano depois toda vez que te encontro. Fico numa ansiedade que me perturba, que consome, porque inexplicavelmente eu sempre tô a fim de te ver e de estar com você. Quase sempre. Meu mundo virou do avesso desde aquela piscadinha no carnaval do ano passado, e, posso falar? tem sido uma delícia. É uma delícia me encantar por você. Admiro o coração bom por baixo dessa casca escorpiana. No fundo, tua armadura é pura proteção contra possíveis machucados, mas ah se você soubesse que eu tenho zero pretensão de te ferir.

As coisas começam a ficar nebulosas quando eu me pego pensando "vou chamar o boy pra fazer algo hoje/amanhã/no final de semana". Acabo esquecendo que talvez essa vontade pode ser unilateral, ou você já tem planos, ou você só não tá a fim. Sinceramente, é compreensível, mas não consigo não me magoar. Colocando isso pra fora parece soar meio obsessivo, mas é bem normal, é amor. É que eu não duvido que você goste de mim, daí acabo esperando que no seu tempo livre você queira me ver também. Eu já sei da sua agenda, você já sabe da minha, nós sabemos quando rola um match. Acabo esperando que nesse match a gente se encontre, mas nem sempre é assim, já era pra eu ter me acostumado.
Me magoa quando eu mando mensagem fofo dizendo que tô com saudades e quero te ver e recebo uma resposta meio monossilábica. Não custa nada responder "sdds tb" ou um emoji bonitinho. Não gosto de sentir que estou incomodando, não depois de quase um ano, essa insegurança devia ter ficado lá atrás.
No fundo no fundo acho que só preciso de um pouco mais de sensibilidade da sua parte. Não quero mensagem toda hora, ligação todo dia, declarações semanais. Quero que você me ouça enquanto eu falo, tenha interesse nos meus problemas assim como eu sou todo ouvidos aos teus, que muitas vezes são bobeiras de meninão mimado que me deixam puto, mas eu respiro, ouço, tento dar algum conselho, te abraço, cuido. A vida não tem sido muito fácil desde o dia que meu pai chorou numa maca de hospital e contou pra nós que tinha um tumor cerebral. E você tem sido o sopro de alegria que eu não sentia desde então.
É que eu já entendi que você é meio egocêntrico. Normalmente são os seus problemas, as suas questões, é sempre você. Mas não pode ser assim. Não sou só eu que preciso me adaptar, que preciso ceder, que preciso cuidar. Também quero ser ouvido, ser cuidado. Não quero ter que falar essas coisas a você porque acho que são pontos que não consigo exigir de ninguém, deve ser natural. Mas eu vou dar aquele toque de brother: não gostei disso nem daquilo no final de semana que passou. Quem sabe consigo engatar algumas pautas, mas numa boa, sem cobrança, eu detesto cobrança, precisa ser leve.
Se não for leve eu não quero mais não.

Tenho aprendido muito a como construir algo com alguém de um jeito maduro, sem todas as obrigações e coisas que dizem pra gente que têm que ser feitas, como é que se comporta quando namora. A gente têm sido letsgo desde o início e é show, mas não tem como eu não sentir uma leve vontade de ser um pouco mais careta. Te apresentar pra minha mãe, pra todos os meus amigos que vivem querendo te conhecer, fazer planos um pouquinho mais concretos, te envolver no meu eu de dentro, que talvez eu nem conheça direito ainda. É um desejo de me abrir 100%, não de fazer coisas pra que você goste de mim. Mas só se você quiser, será que você quer? Às vezes eu acho que sim, às vezes eu acho que não. Mais uma vez sou eu tentando me adaptar ao seu jeito de lua, eu entendo, mas não é tão fácil assim. Por que você não se adapta ao meu jeito bobo?

Não consegui colocar tudo que queria porque comecei a me sentir meio ridículo, mas é mais ou menos isso mesmo, eu me sinto meio ridículo gostando de você, só que pra tudo existe um limite: gosto mais de mim do que de você e isso nunca vai mudar. É ótimo saber do meu valor e quando você não souber mais dele.. tchau tchau. Não acho que chegaremos nesse estágio, pra falar a verdade acho que ainda tem muito eu e você pela frente viu, mas essa ansiedade toda e esses dramas que me consomem vão ter que acabar em breve, só preciso entender melhor como exteriorizar tudo isso pra você.

domingo, 21 de abril de 2019

coça coça

Os ups and downs das últimas semanas realmente esgotam meu emocional mas creio que seja melhor do que levar uma vida apática. Não que eu não esteja pensando em voltar pra terapia, mas acho que ter esse nível de emoção que beira a loucura até que não é tão arriscado.
Enquanto meu corpo inteiro coça por conta de algo na minha cama (há meses) que não sei o que é, meus olhos seguram as lágrimas que também não possuem aparente motivo pra cair. Living la vida com pouca grana em SP pode estar com os dias contados já que planejo minha mudança secreta pra um quarto de empregada a algumas quadras daqui. Essa decisão foi tomada há pouquíssimos dias e ainda tô tentando digerir ela não como um retrocesso, e sim como uma oportunidade de mais uma adaptação na cidade grande porém com 2 ótimos bônus: mais dinheiro no bolso e uma vida entre amigas. Minha casa hoje é muito show e faz sucesso entre a galera, mas, sendo realista, por mais barata que seja pros padrões São Paulo, não condiz com meu salário pequenino. E depois da minha tentativa frustrada de aumento, preciso tomar certas medidas pra não acabar em ruínas por aqui.
Sinto muito por ter que mudar mais uma vez, mas não é como se eu me sentisse plenamente em casa aonde estou, não consigo entender direito por quê, mas é como se eu fosse um visitante ou tivesse alugado pelo airbnb. Me identifico com tudo, mas nada é meu. E meu flatmate pode ser um gato, descoladão, gente boa masss.. não viramos amigos. É pura aparência, e isso me entristece um pouco.
No mais, essa ansiedade por sair e economizar uma grana tem me consumido nos últimos dias, mesmo tendo estado no meio do mato com o boy de sexta até hoje. Agora que voltei e passei algumas horas com o computador na barriga e coceira corporal, a vontade de chorar voltou e ao invés de ceder sem razão alguma resolvi escrever e ela passou. Deve ser o anseio pela mudança/economia logo, ou deve ser essa coceira que acaba com meu psicológico. Só sei que tenho que sair.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

03.04.2019

É sempre em meio a uma crise, um conflito, que me pego pensando no que escrever. Geralmente eu tô na rua, no ônibus, no metrô, na academia, segurando a dorzinha no peito mas pensando em exteriorizar. Nos últimos anos perdi esse hábito que já me fez tão bem, essa é mais uma tentativa de voltar à ativa.

A última passagem pelo quase-choro-no-dia-a-dia foi quando me dei conta de que em todas as áreas da minha vida existem falhas. No meu trabalho as coisas andam mornas, me questiono diariamente se o que eu faço faz algum sentido ainda, não me sinto desafiado ou aprendendo nada novo. Em contrapartida adoro meu chefe e adoro o studio. A grana anda me preocupando também, acho que entrei num vortex de gastos (pra variar) complicado, felizmente tenho minha mãe pra me socorrer, mas é um pesadelo comparar minha conta bancária com a fatura do cartão de crédito. Minha última apelação pra me controlar financeiramente é ir no mercado e comprar tudo do mais barato.
Essas questões de trabalho me fazem refletir todos os dias sobre quem eu quero ser no futuro. Porque agora, na teoria, com quase 30 anos, era pro futuro já estar sendo escrito ou acontecendo. Não sei ainda em que direção seguir profissionalmente, por incrível que pareça tô com saudades de estudar, só não sei o que ainda. É meio foda, achei que depois da faculdade o dia-a-dia se encarregaria de me encaminhar pro lado certo da parada, mas vivo nesse paralelo de me jogar em algo que acredito muito ou no que daria grana pra sobreviver em São Paulo.
Aliás, sobreviver em São Paulo tem sido ótimo, desafiador, denso, todos os dias ao acordar. É sensacional porque quando eu paro e penso eu tô levando a vida que meu eu de 15 anos sonhou um dia (chorei na praia semanas atrás percebendo isso). Formado, trabalhando, morando num apê massa, namorando, amigos, família, tudo jóia. Tirando o dinheiro, pra variar. Enfim, São Paulo tem sido okay comigo até. Tem momentos que só quero largar tudo e correr pra Guararema, o ar daqui é bem pesado, não consigo respirar, caminhar é fatalmente ser abordado por algum morador de rua em situação de vulnerabilidade que eu não posso ajudar, muito muito barulho, muita sujeira, muita energia que a gente pega no transporte público que não é nossa, mas dorme com a gente. É bem doido. Mas é bom, não sei explicar. Gosto da sensação de estar na maior cidade do país, tem sempre muita coisa acontecendo apesar de não aproveitar tudo. Esse é um sentimento recorrente, sinto que não aproveito tudo o que SP pode me oferecer, já que vivo na ponte-aérea Santa Cecília - Pinheiros, mas também essa falta de aproveitamento pela falta de grana do momento: parece que tudo o que eu quero fazer custa 150 reais.
Falho também quando penso em família, uma área que anda bem loka desde que meu pai faleceu. Me pego preocupado com a minha mãe e irmã todos os dias, faço o possível pra manter a calma e o impossível pra ajudá-las com o máximo de poder que possuo: a palavra. Converso, ouço, oriento, dou minha opinião, tento fazer de tudo pra resolver os problemas das duas, mas parece que nem sempre sou ouvido. Dou o meu melhor, mesmo que meu melhor não seja suficiente. Aprendi a me perdoar e não me culpar pelos problemas delas, já que tenho os meus, então por mais angústia que sinto a cada mensagem de desespero que recebo, me blindo pra não nos tornarmos 3 grandes perdidos numa família que ainda não acabou.
Ando falhando no campo amizades nos últimos tempos. Confesso que me traí. Sempre disse a todos que quem começa a namorar e esquece dos amigos é babacão e existem situações que me vejo fazendo exatamente isso. Juro que não é por mal. E juro que não é menos amor. Mas é engraçado me dar conta de que hábitos que faziam sentido pré-namoro hoje já não fazem mais. Não consigo ir nas mesmas festinhas que meus amigos, ficar muito tempo em certos assuntos na hora de conversar. Me dá um apertinho porque consigo ver alguns deles escapando pelas minhas mãos, entre meus dedos, e não me esforço muito para mantê-los por perto. O pior de tudo é que não há conflito. Obviamente aquela meia dúzia segue junto, zap zap todo dia, encontrinho semanal, mandar mensagem quando a saudade bate. Bem que meu pai já me falou: são poucos que são meus amigos de verdade, apesar de conhecer bastante gente.
Já no amor as coisas são menos complicadas. Tem quase um ano que estou completamente entregue e apaixonado pelo cara mais legal que já me apareceu. Frio na barriga toda vez antes de encontrá-lo, muita risada, jogação de carnaval, sexo mais do que incrível, amazing, e, apesar de estar ciente da sua personalidade de lua (que me causa muita, muita ansiedade), hoje finalmente acredito que estamos no mesmo patamar de sentimento e que ele me ama também. Com o tempo vamos ajustando expectativas e caminhando lado a lado, é muito bom ter o Bu perto de mim.

Sempre penso no passado pra poder entender como anda meu presente e pra onde quero ir no futuro. Parece que o eu do passado sabia muito bem o que queria e como fazer as coisas, apesar dos recursos limitados. É meio nebuloso hoje olhar pra trás, ando buscando bastante referência pra poder olhar pra frente. Fazer dos dramas de hoje menos importantes, relaxar, tô fazendo tudo certo e não preciso dessa pressa millennial bizarra comigo o tempo todo. A sensação de que o viver era mais simples antes é péssima, porque hoje ainda é simples, só falta acordar pra realidade e ser menos desesperado. No final das contas eu sei que tô no caminho certo, a taróloga já me disse, com o tempo tudo se resolve. Imagina quando o retorno de Saturno chegar?




terça-feira, 11 de setembro de 2018

bood'up

Há meses o mesmo pensamento surge sem querer em algum momento da semana: "tarra precisane voltar a escrever um pouco, isso me fazia bem". Pra alguém que estava acostumado a escrever desde os 12 (aqui desde os.. 15, 16?), esse gap de uns 2 anos me deixou enferrujado, preguiçoso. Não que as últimas coisas que vomitei foram de grande conteúdo, mas no final das contas só servem pra ver como mudei e quão ruim minha escrita tende a se tornar com o passar dos anos. Se bem que evito hoje ao máximo visitar as memórias do menino mimado de 10 anos atrás, Deus me livre.
Como isso aqui é, sempre foi, e sempre será pro meu eu do futuro, já coloquei Belle and Sebastian no iTunes da era paleozoica e vamo que vamo.

Vi meu pai com um aspecto pior do que nos seus últimos dias de vida na cama do hospital, moribundo, parecendo um zumbi, minha mãe era só um vulto e não lembro das suas feições, mas o que despertou em mim a sensação de desespero foi ver uma figura caquética, pele enrugada, esguia de um jeito que não era enquanto vivo, dizendo: "muito bem, só mais um ano". Gritei por mamãe. O que meu vô queria dizer? Mais um ano de sofrimento, daquele jeito? Mais um ano que fico aqui, que eles ficam por lá? Que lugar era aquele, cruzes? Gritei por mamãe, como já fiz algumas outras vezes, mas acordei com o Bu dizendo bem tranquilo "calma dan, acorda, você tá sonhando, acorda, calma". Chorando no meio da madrugada aliviado, fiquei com isso na cabeça mas agora mal lembro do contexto do sonho. Todos os sonhos que tive com meu pai foram banais ou muito bons, nunca tinha visto ele mal. Anos também que não sonhava com meu vô. Pelo menos passou, pelo menos eu tava na casa do boy abraçado com ele, não sozinho.

No aniversário da minha mãe do ano passado nós estávamos no hospital vivendo de verdade um pesadelo que durou quase dois anos; no desse ano estávamos no forró. Eu, ela, Camila, alguns parentes e vários amigos da mamãe. Isso já era recorrente na minha cabeça, mas nossa, naquela noite como me dei conta de como a minha vida mudou completamente. Agora moro em São Paulo, me formei depois de anos de perrengue e escolhas erradas, trabalho no eterno amor e ódio por arquitetura, quase-morador do país pinheiros (já escrevi sobre esse desejo, eu acho), meu pai não sobreviveu, minha irmã longe, minha mãe perto mas longe vivendo uma adolescência da meia-idade, acho que única coisa que mudou é que eu tô apaixonadão, eu vivo apaixonado né.

Na verdade fazia tempo até que eu não me apaixonava pra caralho mermo. 2016 me deu muito tapa na cara, 2017 fiz a linha empoderada mas sofri pelo mesmo gatinho loiro pine boy, 2018 eu pedi esse boy em casamento no carnaval mas tava bem letsgo, até que consumei o casório meses depois num segundo date, eu bebendo cerveja e ele gin tônica, acabei acordando cercado por cocar de índio e uma decoração de bom gosto. Nem preciso dizendo em qual bairro.
A piscadinha safada que eu dei vestindo um look total egypt of the heart era semi-despretensiosa. Claro, eu bêbado, final de bloco, tava à perigo. Mas o xaveco do vidente de taubaté caiu feito uma luva pro meu estado alcoólico e eu falei pra galera "gente, esse é o boy da minha vida". Bem maluca, nada de novo. Só que desde o segundo date, meses depois, eu fico pensando "caralho, que homem é esse puta que pariu". Do nada eu penso isso, tanto é que chamo ele de boyzão, pois apenas boy não é o suficiente, ele é um boyzão da porra. Tava me faltando um cara inteligente, engraçado e safado, formando esse triângulo show que é o que eu sempre quis em alguém. Big boy me dá vontade de voltar a ler, de me desconectar, de dançar caetano veloso mesmo sem saber as letras, tenho vontade de sair da minha zona de conforto depois de transar entre eucaliptos, meu peito fica acelerado quando eu penso nele. Cara cheio de energia bem doidão, fico em choque como tudo o que ele tem que poderia me incomodar não incomoda, da grana ao escorpianismo: tô nem aí.
Mesmo que seja incerto e a minha taróloga esteja errada, mesmo o medinho de não saber se isso é passageiro como tantos outros, mesmo me gerando ansiedade adolescente quando recebo uma mensagem dele, fico muito feliz de ter conhecido um cara tão do bem e que me causa tanta admiração. Sem falar no tesão, até salivo. Saudadinhas já.

Tive esse pesadelo horrível na noite anterior mas na noite anterior, antes de dormir, percebi o quanto eu tô feliz. Apesar de precisar respirar fundo ocasionalmente e repetir mentalmente diversas vezes o mantra "tudo a seu tempo", eu tô muito feliz. Com anos de atraso no meu planejamento dos 16 anos, mas saí de casa, me formei, voltei a trabalhar, as coisas estão caminhandinho depois de anos tão difíceis. Não cheguei lá, mas andei alguns km com relação ao passado. Pra ser bem sincero eu sinto falta agora de traçar novas metas mentais, daqui um tempo queria voltar a estudar nem que fosse sei lá alemão, pensar em daqui alguns anos em uma pós fora, abrir um negócio, aprender finalmente a surfar, não sei, mas ainda tem muita coisa pra ser feita até a velhice chegar né? Acho que vamos mantendo contato pra ver o andar dessa carruagem chamada danzinho. Adorei o papo dessa noite.

sábado, 4 de junho de 2016

nova iorque com amor

Eu não sei se é porque eu finalmente consegui terminar de assistir todas as temporadas de Gossip Girl, ou se é porque em breve vai fazer um ano desde que eu fiz essa viagem mas não consigo tirar Nova Iorque da minha cabeça. Até me sinto mal por isso porque com tanta coisa acontecendo na vida eu tô com esse sentimento nostálgico bem white boy. Só que não consigo evitar. Foram poucos dias mas acho que o que tornou essa viagem tão marcante pra mim foi conseguir ter um dia-a-dia de "local", ou o mais próximo disso. Não fui a museus, não fechei um city tour, fiquei na casa de um cara que conheci através de terceiros e que se tornou uma das pessoas mais especiais pra mim, de um jeito que não consigo explicar muito bem. Ele é brasileiro mas mora lá há alguns anos e, como o trabalho dele na época era bem flexível, me levou pra passear algumas vezes e rapidamente nos tornamos amigos. Era muito bom participar da rotina do Herick, comprar comida chinesa no cafundó do Brooklyn ou ir cortar cabelo por 10 dólares.
Queria ter ficado no mínimo um mês inteiro por lá. Na época foi estranho: assim como quase todo meu intercâmbio do ano passado, tive a impressão de que já conhecia tudo e só estava de passagem mesmo. Muita conversa e iced coffee do Dunkin Donuts na areia quente de Coney Island, ouvindo música mexicana, conhecendo mais esse meu novo amigo que hoje quero tão bem. Aliás, Coney Island era um dos lugares que eu sempre quis conhecer desde novinho, fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de ir pra lá.
Não fiquei fascinado pela Times Square, era muito turista reunido, muito pau de selfie. Claro que as luzes impressionam, mas pra quem tem Vanilla Sky como filme favorito, a cena do David correndo nela vazia já foi vista mais de 100 vezes, não tinha como eu achar mais legal do que aquilo.
Minha pegada mesmo era colar no 7-Eleven, pegar umas fatias de pizza e um café e sair batendo perna sem saber aonde é que eu tava na verdade. Numa dessas caí no SoHo, e só percebi porque a galera era bem fashionista. Meus últimos dólares foram em lojinhas tipo H&M, porque era aonde dava pra eu gastar. Pra não dizer que não fui turistinha 3000, confesso que também comprei Calvin Klein na Century 21 (muito brega).
Foi nessa viagem que eu conheci outro amigo meu, o Pedro, e ele me levou pra um bar famosinho que nunca vou me lembrar o nome, mas era um rooftop e a Madonna tinha gravado o seu último clipe lá. A vista era demais, mas o pessoal era meio esnobe e até fiquei tímido pra tirar foto. Nesse dia comemos no Chelsea Market uma comida mexicana que também era meio pretensiosa e eu odiei, mas valeu o passeio.
Outro dia andando sozinho cheguei no Bryant Park e não lembro porque mas me senti muito feliz. De qual filme ou livro tem alguma passagem que fala dele? Sentei por um tempinho, observei a galera lendo, comendo, fumando cigarro, esperando pessoas, segui batendo perna explorando sem rumo.
O mais próximo que cheguei de um museu foi - claro - sentar nas escadarias do Met, e eu tinha um copo de café do Starbucks comigo. Nesse dia me permiti caminhar pelo Central Park ouvindo música, fingindo que era morador do Upper East Side e ignorando totalmente o fato de que fatalmente iria me perder no metrô pra voltar pro Brooklyn. Daniel, sendo Dan na vida real.
Acho engraçado que essas memórias estão me invadindo tão ferozmente nos últimos dias. E só agora eu consigo perceber como eu desde pequeno tive referências de NY e como eu me lembro hoje, adulto, 25 anos, que meu maior desejo de adolescente era ir pra lá. Meu livro favorito aos 16 era The Catcher in the Rye e meu filme favorito até hoje é Vanilla Sky mas eu também adoro Autumn in New York ou qualquer filme que se passa por lá. Sobre Catcher in the Rye, um dos meus life goals completados foi pedir um dry martini em um bar nova iorquino, e no 4th of July eu tava lá, em um rooftop de um hotel, com uma vista linda pro Empire State, comprando o drink de 15 dólares que me fez voltar no tempo e pensar porra, como a vida é massa. Ostentei, mas voltei de metrô com meus novos amigos pra casa.
Essa vontade repentina de voltar, uma melancolia inesperada que me causa um frenezi totalmente oposto: tá brotando em mim uma ambição, coisa que não é nada recorrente. Será que eu tenho - finalmente - um objetivo a alcançar?
Não sei se conseguiria meter o louco e partir ilegalmente, lavar prato e me fuder. Também não sei se o lance seria juntar uma grana e só viver lá por alguns meses como alguns conhecidos já fizeram. Tenho noção de que trabalho, legal, é uma realidade meio inalcançável mas e se a minha ambição não tiver limites? Isso que é meter o louco..
Quando eu penso em NY eu me vem um filme na cabeça e eu estou andando pela Broadway com meus fones, as pizzas do 7-eleven, o iced coffee do Dunkin Donuts e a vida toda pela frente. Quero tudo de novo e mais, não sei nem por onde começar mas eu quero.





domingo, 24 de abril de 2016

Haja coração

Tem momentos na minha vida que tudo parece tão acelerado que não consigo parar e respirar, processar como as coisas estão rolando, digerir tudo pra depois vomitar conclusões. Os últimos meses têm sido de muito aprendizado em diversos aspectos, vou tentar ser sucinto com o meu eu do futuro pra que ele não se esqueça dessa época quando voltar aqui pra ler um pouco.
Meu coração está sendo testado em cada pedacinho. É muita adrenalina e emoção pra eu lidar e eu tô tentando administrar tudo isso de um jeito adulto porque eu quero ser adulto daqui pra frente.
No começo do ano me dei conta de que se algo não dá certo com alguém não é culpa minha. É culpa do universo, e tá tudo bem. Cheguei a essa conclusão porque acho que tô crescendo e entendendo que cada decepção amorosa não é o fim do mundo, é só a vida mesmo e que ninguém é obrigado a se apaixonar por mim do jeito que eu me apaixono pelas pessoas. Cada um tem uma frequência e não sou obrigado (e ninguém é obrigado) a seguir a do outro. Se não quer vir na minha, paciência. Ando também num intensivo hardcore de auto-conhecimento e aceitação, aceitei que sou sim um cara legal e gente boa e repito frases pra mim mesmo quando algo vai mal do tipo "quem perde é ele, não você, você é jóia" e etc. Minha auto-estima anda nas alturas.
Fui testado também com a maior prova de que o amor existe que alguém pode ter um dia. Descobrimos que meu pai tem câncer renal e teve metástase cerebral. Nunca me senti tão frágil repentinamente. A dor da quase perda é algo muito surreal, principalmente porque ninguém se prepara pra ela. Me surpreendi que não fui egoísta em me desesperar na frente de todos, chorei muito, muito mesmo, mas recluso. Uma força sem explicação brotou do nada e eu só agi com responsabilidade e fiz o que tinha que ser feito. Passamos por diversos momentos terríveis no primeiro hospital que a gente procurou ajuda, senti o risco de morte do meu pai ali num ambiente totalmente negligente, foi difícil. Superamos essa barra e meu pai está em tratamento, feliz, de bem com a vida, mais esperançoso do que nunca e mais tranquilo. Foi um chacoalhão que ele recebeu pra desacelerar, mais um aprendizado inesperado. Estamos mais unidos do que nunca.
Outra lição que a vida adulta está me dando é sair com várias pessoas ao mesmo tempo. Tô aprendendo isso ainda, confesso que as vezes me sinto biscate, mas essa coisa de levar pequenos relacionamentos paralelos anda me desafiando bastante. Sabe quando você vê em filme uma cena que o cara diz ou a menina diz "mas eu não sabia que a gente era exclusivo agora" quando o outro descobre que o peguete estava saindo com mais pessoas? Não acho que eu vou chegar nesse ponto, até por que as relações são tão voláteis em São Paulo que já já fico sem ninguém, Mas é engraçado notar meu controle pra pelo menos tentar não me apaixonar. Eu sempre me jogo, mas como me jogar com mais de um ao mesmo tempo? Isso não dá. Também não acho que seja um game do amor que eu esteja escolhendo com quem ficar. Só tô levando tudo com calma, vendo no que dá, conhecendo gente, até baixei o Tinder de novo.
Não é surpresa que eu me apaixono rápido e claro que isso aconteceu, mas já dei logo um jeitinho de me controlar. Fico animado com palavras mas infelizmente são só palavras. Tô mais observador e reparando nas ações, em gestos, pego uma mentira aqui e ali, não sou mais ingênuo. Parece que eu tô me preparando pra algo maior, não consigo explicar direito. Não é um slow-down na loucura, é só uma abordagem diferente agora. Consigo ser mais honesto comigo e sei muito bem o que eu quero, e quero acima de tudo tranquilidade, não sofrimento. Nossa, tô soando maduro? Eu tô crescendo mesmo!
Claro que nem tudo são flores porque o dia-a-dia não é nenhum bouquet de rosas. Ainda colhendo os frutos dessa crise (porém milagrosamente sem deixar de ir pra balada.. milagre do dinheiro?), desempregado, meio perdidão profissionalmente, daquele jeitinho, mas até agradeço o destino por me deixar sem trabalhar nesse tempinho de doença do meu pai. Não sei como conseguiria lidar com tudo trabalhando, não ia ter jeito não. Agora que tudo tá mais calmo posso voltar a maratona de enviar CVs. Ah, na faculdade tudo certo também, agora sou meio nerd e só penso no diploma. Vamo que vamo.
Eu espero sinceramente que os próximos meses sejam de marés mais calmas pro meu coraçãozinho que se divide em mil pedaçõs pra poder processar cada tapa da vida. Mas é aquele negócio, pelo menos eu estou sentindo. Nunca vou deixar de sentir.

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