terça-feira, 11 de setembro de 2018

bood'up

Há meses o mesmo pensamento surge sem querer em algum momento da semana: "tarra precisane voltar a escrever um pouco, isso me fazia bem". Pra alguém que estava acostumado a escrever desde os 12 (aqui desde os.. 15, 16?), esse gap de uns 2 anos me deixou enferrujado, preguiçoso. Não que as últimas coisas que vomitei foram de grande conteúdo, mas no final das contas só servem pra ver como mudei e quão ruim minha escrita tende a se tornar com o passar dos anos. Se bem que evito hoje ao máximo visitar as memórias do menino mimado de 10 anos atrás, Deus me livre.
Como isso aqui é, sempre foi, e sempre será pro meu eu do futuro, já coloquei Belle and Sebastian no iTunes da era paleozoica e vamo que vamo.

Vi meu pai com um aspecto pior do que nos seus últimos dias de vida na cama do hospital, moribundo, parecendo um zumbi, minha mãe era só um vulto e não lembro das suas feições, mas o que despertou em mim a sensação de desespero foi ver uma figura caquética, pele enrugada, esguia de um jeito que não era enquanto vivo, dizendo: "muito bem, só mais um ano". Gritei por mamãe. O que meu vô queria dizer? Mais um ano de sofrimento, daquele jeito? Mais um ano que fico aqui, que eles ficam por lá? Que lugar era aquele, cruzes? Gritei por mamãe, como já fiz algumas outras vezes, mas acordei com o Bu dizendo bem tranquilo "calma dan, acorda, você tá sonhando, acorda, calma". Chorando no meio da madrugada aliviado, fiquei com isso na cabeça mas agora mal lembro do contexto do sonho. Todos os sonhos que tive com meu pai foram banais ou muito bons, nunca tinha visto ele mal. Anos também que não sonhava com meu vô. Pelo menos passou, pelo menos eu tava na casa do boy abraçado com ele, não sozinho.

No aniversário da minha mãe do ano passado nós estávamos no hospital vivendo de verdade um pesadelo que durou quase dois anos; no desse ano estávamos no forró. Eu, ela, Camila, alguns parentes e vários amigos da mamãe. Isso já era recorrente na minha cabeça, mas nossa, naquela noite como me dei conta de como a minha vida mudou completamente. Agora moro em São Paulo, me formei depois de anos de perrengue e escolhas erradas, trabalho no eterno amor e ódio por arquitetura, quase-morador do país pinheiros (já escrevi sobre esse desejo, eu acho), meu pai não sobreviveu, minha irmã longe, minha mãe perto mas longe vivendo uma adolescência da meia-idade, acho que única coisa que mudou é que eu tô apaixonadão, eu vivo apaixonado né.

Na verdade fazia tempo até que eu não me apaixonava pra caralho mermo. 2016 me deu muito tapa na cara, 2017 fiz a linha empoderada mas sofri pelo mesmo gatinho loiro pine boy, 2018 eu pedi esse boy em casamento no carnaval mas tava bem letsgo, até que consumei o casório meses depois num segundo date, eu bebendo cerveja e ele gin tônica, acabei acordando cercado por cocar de índio e uma decoração de bom gosto. Nem preciso dizendo em qual bairro.
A piscadinha safada que eu dei vestindo um look total egypt of the heart era semi-despretensiosa. Claro, eu bêbado, final de bloco, tava à perigo. Mas o xaveco do vidente de taubaté caiu feito uma luva pro meu estado alcoólico e eu falei pra galera "gente, esse é o boy da minha vida". Bem maluca, nada de novo. Só que desde o segundo date, meses depois, eu fico pensando "caralho, que homem é esse puta que pariu". Do nada eu penso isso, tanto é que chamo ele de boyzão, pois apenas boy não é o suficiente, ele é um boyzão da porra. Tava me faltando um cara inteligente, engraçado e safado, formando esse triângulo show que é o que eu sempre quis em alguém. Big boy me dá vontade de voltar a ler, de me desconectar, de dançar caetano veloso mesmo sem saber as letras, tenho vontade de sair da minha zona de conforto depois de transar entre eucaliptos, meu peito fica acelerado quando eu penso nele. Cara cheio de energia bem doidão, fico em choque como tudo o que ele tem que poderia me incomodar não incomoda, da grana ao escorpianismo: tô nem aí.
Mesmo que seja incerto e a minha taróloga esteja errada, mesmo o medinho de não saber se isso é passageiro como tantos outros, mesmo me gerando ansiedade adolescente quando recebo uma mensagem dele, fico muito feliz de ter conhecido um cara tão do bem e que me causa tanta admiração. Sem falar no tesão, até salivo. Saudadinhas já.

Tive esse pesadelo horrível na noite anterior mas na noite anterior, antes de dormir, percebi o quanto eu tô feliz. Apesar de precisar respirar fundo ocasionalmente e repetir mentalmente diversas vezes o mantra "tudo a seu tempo", eu tô muito feliz. Com anos de atraso no meu planejamento dos 16 anos, mas saí de casa, me formei, voltei a trabalhar, as coisas estão caminhandinho depois de anos tão difíceis. Não cheguei lá, mas andei alguns km com relação ao passado. Pra ser bem sincero eu sinto falta agora de traçar novas metas mentais, daqui um tempo queria voltar a estudar nem que fosse sei lá alemão, pensar em daqui alguns anos em uma pós fora, abrir um negócio, aprender finalmente a surfar, não sei, mas ainda tem muita coisa pra ser feita até a velhice chegar né? Acho que vamos mantendo contato pra ver o andar dessa carruagem chamada danzinho. Adorei o papo dessa noite.

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