quarta-feira, 21 de março de 2012

Dou valor

Aproveitando o tédio matinal fora de casa já que não tive aula, vou escrever até que todo mundo acorde.

Falando sério, não sei mais o que esperar das pessoas. Você acha que conhece elas muito bem, que gostam de você, que te consideram, que o afeto que você sente por elas é recíproco e tal, daí, algum tempo se passa e quando você finalmente tem a chance de pôr em prova tudo o que sente, elas aparecem e quebram o quadro com toda a imagem delas construída em sua memória ao longo de tantos anos. Devo soar meio dramático mas não digo nenhum inverdade. Falsas desculpas, pura preguiça, falta de consideração, não sei o que se passa, parecem que querem que eu saia da vida delas antes do programado (pelo menos por mim).
Quando se está longe de todos que te amaram por tanto tempo o mínimo que se espera é que sintam tua falta assim como tu sente a deles. No mais, que você seja aquele pedacinho vazio do dia que aguarda uma data para ser preenchido novamente. Porque é isso que eu sinto sempre, enormes vazios. Será que por causa de uma decisão de vida minha vou ser culpado e pagar um preço que infelizmente não consigo lidar? Além de compreensão e suporte, o que eu espero (esperava) é conforto, compreensão e o mínimo de saudade. Não da boca pra fora, mas saudade honesta, lá de dentro, quando você sente que é importante pra alguém.
Hoje sei que essa saudade habita alguns. Mamãe, papai, Camila, meus cães, meus avós, minha família. Se vou voltar pra casa em um próximo final de semana será exclusivamente para eles. Para  alguns poucos, mas bem poucos, pouquíssimos amigos, não para todos eles. Não deixarei de lado o tempo que posso passar em casa no colo dos meus pais pra ficar na rua esperando um sorriso de pessoas que não fazem mais questão de mim. Se tem algo que dou valor – hoje mais ainda – é o sangue que corre nas minhas veias e daqueles que me criaram.
Dou valor ao lugar que me acolheu também. 3 dias na calmaria, no verde, no ar puríssimo, na minha cozinha, meu quarto, minha sala, falando bobagens cotidianas com a minha mãe (de fulano, de ciclano, da vizinha, do mercado, da consulta médica, da tia chata), minhas tardes dirigindo com a minha irmã ao meu lado, do meu pai e o olhar profundo e úmido de quem está feliz por ter seu filho por perto, da grama do jardim habitada pelas criaturas mais lindas da face da terra que vivem rolando por aí, do grito de vó quando apareço de surpresa, da parentada toda querendo saber se eu estou me alimentando bem, se tudo está bem, se eu estou bem. É bom ponderar quais/quem são suas prioridades na vida. Pra alguém que achava que era rodeado de carinho em cada lugar que passava, eu, francamente, me decepcionei. E me surpreendi também. Aqueles que menos espero são os que mais me procuram. Isso não só lá, mas aqui também. Ouvir um “obrigado por estar sempre comigo” faz um bem danado ao coração de quem se sente sozinho. Dou valor a essas pequenas coisas. No final das contas os momentos mais simples são os que contam. Não preciso da ostentação, do holofote, de sempre estar num lugar foda pra me sentir bem. Na beira da rua tá bom, sentado na calçada tá bom, no banco da praça tá bom, se quem está do meu lado é amigo de verdade. E amizade, é sempre bom lembrar, não é aquela da noite e da bebedeira. Sábio é meu pai que sempre me alertou isso e disse que eu ainda iria me chatear com muita gente. No fundo eu sabia que iria, só não esperava que fosse tão rápido assim. Nada é como eu espero, no geral.
Tristezas à parte, eu reforço: grato eu sou pela família, melhor e poucos amigos, singelos e pequenos momentos, demonstrações de afeto sinceras e pelo que meu pai construiu pra poder me beneficiar um dia. Quando dizem que é impossível viver feliz sozinho eu concordo, mas feliz mesmo é aquele que tem poucos por perto, não muitos, porque tudo o que é demais estraga. Só que quando o que é demais são pessoas, quem pode estragar é você.

o-matic                                         home is where the heart is

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