Já faz algum tempo que eu não venho aqui olhar pra trás então não sei se estou sendo repetitivo, mas ando numa angústia ruim há semanas e é difícil lidar com ela (ou comigo).
Numa dessas idas e vindas com a cabeça encostada no vidro do ônibus eu respirei fundo e me fiz uma pergunta difícil: eu gosto de quem me tornei? Parei pra pensar na pessoa que eu sou hoje e cheguei à conclusão de que não gosto muito dela.
É meio nebuloso tentar lembrar quando foi que eu deixei de ser eu e virei esse cara de agora. Infelizmente tenho ciência de que sou indeciso, imaturo, sem qualquer foco ou objetivo concreto na minha vida, sei que só tô vivendo. Ou morrendo. Não acontece só comigo, conheço muitas pessoas assim. Gente que passa horas com o notebook na barriga dando scroll na dashboard do tumblr, timeline do facebook e do twitter, deixando o mundo girar lá fora enquanto perdem horas nos seus quartos. E quando saem pra fora, lá está o celular em suas mãos, e uma ansiedade sem razão alguma que checa a cada segundo quem curtiu a última foto postada no instagram ou vendo qual foi o ultimo snap recebido. Eu - assumo - sou desses.
Não gosto também quando me olho no espelho. Odeio essas espinhas vindas da adolescência que insistem em continuar no meu rosto, meu cabelo sem forma definida e algumas rugas que eu vejo que já aparecem e não há filtro solar que impeça meus 23 anos de gritarem "Ei, cê tá envelhecendo cara". 23 anos depois e não conquistei absolutamente nada. Nessa insegurança e preguiça que eu vou me sustentando.
Queria saber se meus únicos momentos de alegria na vida vão ser aos finais de semana, com amigos e "amigos", festa, música, bebida, sexo, cigarro, e uma falsa sensação de diversão e felicidade, que dura até ao acordar no momento que sinto minha cabeça latejando de ressaca. O cigarro aliás eu vivo tentando largar, só que no fim das contas acaba sendo muitas vezes minha única companhia. São aproximadamente 5 ou 6 mil pessoas conectadas a mim entre twitter, facebook, tumblr e instagram: e eu me sinto sozinho cada dia mais.
Assisti a um filme ontem que o protagonista disse uma frase que eu já disse a mim mesmo várias vezes, até uma lágrima escorreu quando vi essa coincidência. Ele disse "Sometimes I think I have felt everything I'm ever gonna feel. And from here on out, I'm not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I've already felt.". Posso estar sendo ingênuo agora mas eu realmente acredito nisso. Quando foi a última vez que eu senti algo pela primeira vez?
Vejo por aí pessoas felizes com o que fazem da vida, com o que estudam, com o que trabalham, com namoradas, namorados, solteiros e realizados, com essa vontade gostosa de querer conquistar coisas pela vida, construir coisas, seja lá comprar uma casa ou casar, mas sempre empolgados com algo e eu olho pra mim e vejo que a única coisa no momento que me dá o mínimo de empolgação é o show do Hardwell que eu vou com um amigo na próxima sexta-feira. Isso não pode ser normal.
O pior é que eu não consigo me lembrar, não consigo dizer o momento exato que eu virei esse cara vazio e perdido. Não gosto dele. Se eu não fosse eu, não gostaria de me ter por perto.
Semana passada eu fui assaltado e levaram meu celular. Minha irmã me emprestou um celular velho dela cheio de músicas boas e eu comecei a ouvir elas no caminho do trabalho e da faculdade e cara, que delícia. Tinha mil músicas lá que eu amava quando era um pouco mais novo do que ela e a cada redescoberta eu queria chorar mais e mais. Falo de música porque querendo ou não é com músicas, filmes e livros que eu ainda tenho alguma conexão com o meu eu de antigamente.
Apesar de reconhecer que já fui um moleque bem arrogante, hoje em dia até que sinto falta dessa arrogância. Eu era um arrogante inocente.
Gostava da falsa sensação de só eu conhecer tais filmes da minha turma, tais bandas, de descobrir lugares que ninguém mais conhecia na minha cidade e tirar fotos dele, me sentia um pouco especial. Não me permitia confiar em quase ninguém, não era de muitos amigos e definitivamente não era alguém sociável. Tinha medo de confiar por medo de me machucar. Desde os primeiros anos de escola eu já sabia como as pessoas podiam ser ruins e já passei por algumas experiências com elas, evitava ao máximo sofrer novamente, então me fechei. Eram poucos os que tinham acesso à mim. E eu era feliz assim! Lendo muito, ouvindo muita música alternativa, vendo filmes "cult", bebendo uma cerveja ou outra por aí, dando risada com as poucas pessoas que faziam parte do meu círculo de amizades, aprendendo, conhecendo, me descobrindo, sentindo tudo pela primeira vez e ninguém precisava saber disso. E mesmo não parecendo depois dessa minha auto-descrição, eu era louco por viver. Tinha mil planos, era decidido. Haha, quando eu tinha uns 15 anos eu tinha certeza que aos 20 eu estaria fazendo arquitetura no Mackenzie, morando em São Paulo num apartamento pequenininho mas só meu, trabalhando, comprando meu carro e definitivamente teria uma namorada. Eu queria ter uma namorada pra poder viajar junto de carro, tirar foto com câmera analógica e poder escrever pra ela. Eu era esse cara romântico que queria estudar, trabalhar, arrumar uma namorada, casar, ter filhos, acompanhar o crescimento deles, levar o menino pro jogo do corinthians e a menina ao ballet, finalmente comprar uma casa num condomínio e levar uma vida tranquila e normal, igual à de todo mundo. Nunca quis ser diferente, apesar de já ter passado por aquela fase revolucionária de querer negar todos os padrões impostos pela sociedade, eu já fui meio rebelde sem causa também. Mas um rebelde ciente de que minha revolta era interior e que nada iria mudar. Arrogante de merda, mas muito mais interessante do que sou hoje.
É que ir pra faculdade, pro trabalho, pra balada e pra academia não me satisfazem mais, aliás nunca me senti satisfeito com isso, só que não sei o que fazer pra mudar. Então eu não mudo. Eu continuo aqui, com o notebook na barriga, o celular na mão, postando, lendo os feeds, vendo as horas passarem, até chegar a hora de dormir, acordar, ir pra academia, trabalho, faculdade, até a semana acabar e eu sair pra beber, pra dançar, pra arrumar alguém pra trepar, me arrepender, acordar, ficar com o notebook na barriga e tudo se repetir de novo, toda semana, todo mês, e assim vai.
No meu aniversário eu recebi um monte de votos de felicidade e li umas coisas muito lindas a meu respeito de muita gente que eu muitas vezes nem dou tanta importância. Em alguns recados diziam que era pra eu continuar sendo sempre esse cara amigo, alegre, que as pessoas gostam de estar perto, de sair, de conversar, enfim, pra eu continuar sendo a pessoa carismática que sou, seguido de muitos votos de felicidade, amor, e etc. Fiquei surpreso e feliz que essa seja a imagem que eu passo pra maioria dos meus "amigos" (que não são poucos) e é realmente bom me sentir querido um dia do ano. Mas por que é que quando eu estou sozinho, no ônibus, olhando a estrada e com os fones no ouvido, eu não enxergo esse homem legal que dizem que eu sou? Eu não sou ele. E se sou, de que vale ser tão amigo e gente boa com os outros, se por dentro é esse amargor e aperto que eu sinto?
Se eu nunca mais vou sentir algo novo, se daqui pra frente nada mais vai ser novidade e eu não tenho perspectiva e foco algum em realizar algo maior, não sei até que ponto vale a pena essa caminhada.
Uma caminhada em que ando, ando, ando e nunca saio do lugar, ligo o computador e desisto até de rastejar.
quando eu era arrogante e sentia
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