domingo, 31 de março de 2013

hindsight love


Quando eu era mais novinho e começava a gostar de alguém aquilo consumia totalmente meu tempo e não conseguia pensar em mais nada além da menina em questão. Era muito complicado. Mesmo que eu sempre tenha me negado a viver de platônicos, cuidava muito quando chegava no limite da paixãozinha em que era necessário que ela soubesse o que eu sentia. Eu sei que eu sou muito transparente e não consigo esconder quando o coração bate mais forte, acabo dando pistas, mas há um tempo atrás era como se cada uma que eu gostava fosse o maior evento da minha vida. Cada palavra era a mais honesta possível e tudo o que eu dizia parecia ter muito mais significado do que hoje, era bem de dentro mesmo, era muito mais importante. E o mesmo acontecia quando alguma menina vinha dizer que gostava de mim, era sensacional. Achava irada a ideia de que alguém pensava no Dan longe dele.
Ando numa fase esquisita. Apesar de quando o interesse surge eu ainda dar uma puta importância e viver pensando nela o dia inteiro, parece que eu preciso seguir um script pra tudo dar certo. Mandar uma mensagem, não responder outra, dar um tempo até mandar a próxima, procurar, ignorar, falar disso, chamar pra sair, não retornar a ligação, ligar, marcar de sair de novo, falar o que tá sentindo, e daí por diante. Meio automatizado, senão não dá certo. Não consigo acreditar quando dizem que gostam de mim também. Não consigo mais acreditar nas pessoas com a mesma ingenuidade que tinha antes. É muito fácil, se você pensar bem, dizer que está apaixonado, iludir uma pessoa, fazer com que ela se apaixone por você também, é só seguir os passos.
É muito fácil me iludir também. Pra me conquistar basta: me dar atenção, me procurar sempre, se preocupar comigo e confiar em mim. Caio sempre, feito um pato, sempre me apaixono e quebro a cara. Mesmo que de início a menina se interesse de verdade por mim, eu canso fácil os outros justamente por gostar tanto de atenção eu acho. Acabo me expondo demais e quando se expõe de mais a graça acaba.
Vai ver por isso as palavras hoje não causam o mesmo efeito como antes. Eu não consigo mais achar veracidade em nada, nem no que eu digo às vezes. Por mais que eu sinta, e muito, sempre, por mais que eu seja puro sentimento, não sei mais expressar do jeito certo, do jeito puro, do jeito ingênuo de uns anos atrás, de chegar e sentir um nervosismo real quando converso com aquela que não sai da minha mente, de sorrir sempre que pensava nela, de virar um babacão bobão apaixonado. Essa inocência gostosa foi substituída por ansiedade (que muitas vezes eu também devo causar). 10 minutos sem me responder, mensagem visualizada, “Por que ela não fala comigo?”, “Que que eu tô fazendo de errado?”, “Será que falo com ela?”, etc, etc. Fico afobado e maluco com a mesma rapidez que me apego. Nada saudável. Não é insegurança, não consigo explicar. Eu vivo dizendo que gosto de simplicidade, que qualquer relacionamento pra mim tem que ser simples, sem neuroses, sem bobagens, sem draminhas e sem joguinhos, só que nunca é assim, acabo traindo o que eu mesmo prego.
Queria saber qual momento da minha vida que eu deixei essa coisa de lado. Se foi culpa de alguém, se a culpa foi minha, no que que eu mudei pra agir assim hoje. Ou se eu podia voltar a ser quem eu era.

                                                                         the hardest part is yet to come

sábado, 16 de março de 2013

webless


Queria poder acordar, tomar meu café da manhã, pegar a condução até o colégio e realmente estudar. Ter um grupo seleto de amigos ou ser popular na escola só por ser legal e ter simpatia com todo mundo. Me inscrever em todas as atividades acadêmicas e ter um objetivo maior além de passar de ano na média, me esforçar pra ver o futuro que eu quero pra mim acontecer. Ter uma perspectiva.
Sem distrações, queria contato com as pessoas do modo mais honesto, olho no olho, palavra por palavra saindo de boca em boca, calor, abraço, carinho, toque. Imagina te convidarem pra uma festa por telefone, ou receber uma carta de manhã, saber da guerra do outro lado do mundo parado na frente da tv no mesmo momento que o resto do planeta. Ouvir música alta no quarto e ter uma pilha pilha de k7 copiadas dos seus amigos.
Olha que massa: pra ver mulher pelada só ao vivo ou comprando um revista. Guardar ela como se fosse seu tesouro de punheta. Cada noite que você tem sexo com alguém é uma batalha de muito papinho no ouvido.
Pensa em reunir o pessoal pra tomar cerveja quando os pais viajarem e realmente conversar, saber do que anda acontecendo na vida dos outros por eles, dividir as coisas boas e ruins, ligar o som e dançar, cada um sentindo a energia do outro ali porque aquele momento é importante. Vai passar e fim, eternizado.
Seria sensacional voltar no tempo e não só ter uns 16 anos de novo, mas ter uns 16 anos num tempo em que ninguém era tão ansioso como eu sou, checando a “vida” na palma da mão de 3 em 3 minutos, vendo quem curtiu a última foto legal no instagram, ou comentou no status do facebook, se aquele meu whatsapp foi visualizado, se o e-mail que eu tava esperando chegou, quando rts meu tweet ganhou, se a minha foto de perfil tá legal, ou qual é o rolê do final de semana que me convidaram. Imagina só ser adolescente sem essas distrações.
Eu com certeza teria estudado mais se não tivesse um celular ou um computador. Teria lido muito mais, aprendido muito mais. Minhas experiências teriam sido mais humanas. Eu realmente faria amigos no dia-a-dia, conversando, conhecendo, e não lendo um resumo sobre eles na internet, vendo fotos, sabendo quem são pelo que eles querem que eu saiba deles. Sem internet eu seria muito mais curioso em saber das coisas, não iria me distrair tanto. Olha que irônico: essa tecnologia toda que a gente meio que nasceu imerso nela foi feita pra facilitar e agilizar o tempo no nosso dia-a-dia né, e no entanto, quanto tempo por dia não se perde checando twitter, facebook, tumblr, e-mail, pinterest, noticias, etc? Que informações são essas que a gente precisa ter todo dia pra se sentir bem? E que vazio é esse que ela cria na gente ao mesmo tempo?
Sei que é clichê e hipócrita da minha parte pensar e muito mais escrever sobre, mas sempre fico imaginando como seria minha vida se não existisse internet, por mais dependente que eu seja dela. E sempre acabo concluindo que eu seria mais humano, mais real, mais eu. E a vida no geral seria mais humana, os momentos seriam mais reais, mais importantes. É aquela coisa de sentir um frio na barriga porque aquele alguém sorriu pra você, e não sentir um nervosinho porque curtiu 2 fotos antigas do insta. Não sei se tô conseguindo descrever o que eu penso.
É sei lá, ir em lojas pesquisar coisas legais pra comprar e não comprar on-line, ir pra uma festa e alguém levar uma câmera, revelar as fotos e você guardar pra você porque aquele momento foi importante pra você e não expor uma coisa tua pro mundo inteiro ver, é ter tempo e curiosidade pra ler literatura boa e não blogs, trabalhar com gente e não na frente de máquina, de fazer um desenho legal e guardar, não vetorizar no illustrator, dele ficar ali no papel, original, ir até o cinema pra ver um filme ou ter todo o ritual de ir na video=locadora escolher algo bom e não fazer download, é ter uma vida menos imediatista e mais gostosa de se aproveitar.
Será que é possível?

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