quarta-feira, 5 de junho de 2019

Já que o horóscopo sugeriu, e é junho, vamos nos reconectar

Se um dia me dissessem há meses atrás que eu teria tudo o que sempre sonhei, eu não acreditaria. Preenchi um bingo da vida adulta que muita gente nunca vai fazer nem a quina. O meu privilégio de hoje morar num apê maneiro com um roomie legal, trabalho de carteira assinada recém conquistado, um boyzão marashow que gosta de mim, conseguindo aos trancos e barrancos pagar minhas contas.. Não deveria reclamar, o inevitável mesmo é ser millennial.
Até que ser millennial não, na verdade o problema é ser mimado e sentimental. E nossa, têm horas que eu queria não sentir tanto.
Há poucos dias minha rotina mudou mais uma vez na cidade vida loka que é São Paulo. Agora acordo antes do sol raiar, nesse friozinho da disgrama, como e tomo banho rapidinho porque a labuta vai começar. Com todo mundo é assim, comigo não deveria ser diferente. Chego na firma, bato cartão, dou bom dia pra todos meus novos colegas, sento na frente da tela e espero os comandos do dia que começa no horário que eu chegava na academia até semana passada. Com todo mundo é assim, comigo não deveria ser diferente. Aprendo umas coisas mecânicas, finalmente consegui usar o sistema hoje. O sistema que trava trava trava mas todos usam. Os departamentos, a fábrica, as lojas, ninguém consegue se comunicar direito. Fico ansioso, nervoso, quero trabalhar e não sei como, esse sentimento é terrível porque amo trabalhar, mas compreendo que é só o começo. Com todo mundo é assim né? Comigo não deveria ser diferente. Ouço a galera entrosada já conversando, fofoca aqui, fofoca dali, rimos muito. Rimos também de nervoso, porque aparentemente todo mundo é muito estressado, atarefado, respirando e vivendo a empresa numa pressa pra fazer todas as coisas que ainda não sei. Enquanto isso tô lá na minha, tentando aprender, esperando alguém me ensinar mas fuçando tudo que está ao meu alcance na minha tela. Confesso que me peguei lendo o horóscopo hoje também, não sou de ferro. Tomei umas 5 xícaras de café pra me manter acordado, afinal dormi tarde e acordei cedo. Com todo mundo é assim né, comigo não deveria ser diferente.
O dia acaba e eu também, isso sem ter feito nenhuma hora extra ainda, o que é bastante comum e eu já notei que a galera realmente veste a camisa. Me pergunto se todos sentem prazer, ou se ganham muito mais que eu, mas é bastante impressionante a vivência. Nunca tive isso. Mesmo em experiências profissionais passadas, ótimas por sinal, sempre soube priorizar minha vida pessoal, senão a gente pira a cabeça. Já sei que jamais vou ser a pessoa que respira o trabalho, porque prefiro o ar mesmo. Mas, com todo mundo é assim né, comigo não deveria ser diferente.
O que mais me causa stress e me deprime por dentro é que ah, como eu queria, muito, muito mesmo estar feliz. Como eu queria estar agradecido, animado, empolgado, com fôlego pra vencer os desafios. Desafios que eu mesmo corri atrás para enfrentar, afinal, mudança não é show? Tô começando a achar que, pelo menos pra mim, nem tanto.
A gente sempre ouve dizer que se acostuma com tudo, e com coisa boa então, nossa! É incrível. Quanto mais eu me acomodo, menos cresço, só que é tão gostosa a zona de conforto, é tão confortável, e em alguns anos atrás eu amava ficar confortável, era meu goal na vida.
Meu boy me disse ontem: "crescer dói", e dói mesmo, been there algumas vezes. Mas é tão errado querer crescer sem sentir vontade de chorar o tempo todo? Melhor, é errado querer exercer alguma atividade profissional que realmente dê prazer? Ou, viver fazendo o que se gosta? Pra sempre?
Minha mãe vive dizendo "todo mundo passa por isso, com você não vai ser diferente". Ai de mim de querer ser diferente de todo mundo né, mas que azar o meu nascer na geração que não pensa no esforço do trabalho e recompensas do crescimento, e sim em aproveitar a jornada.
Tenho pensado com mais frequência do que o normal no meu pai. Me pego pensando nele em uns momentos que meu coração estava como nos últimos dias: aflito, apertado, vulnerável, e em como eu guardava esse sentimento ao máximo até explodir no choro e pedir colo. Foi meu pai que me apoiou nas inúmeras loucuras da juventude, nas aflições de mudar de vida, trancar faculdade, largar tudo e ir pro sul, conhecer namorada da internet, nos meus choros de menino mimado que insiste em não encarar a vida real porque não cansa de fantasiar a vida ideal. Ouvi da minha mãe que antes dele partir eu era o que ele mais se preocupava sem ele por aqui, deve ser por isso que ele aparece semanalmente nos meus sonhos, sempre presente, cuidando de longe. Fazia muito tempo que eu não chorava tanto e fazia muito tempo que eu não pedia pro meu pai cuidar de mim. Quase 30 anos na cara, querendo cuidado, chega a ser patético, mas nunca vou negar quem eu sou.
Com todo mundo é assim mas eu quero que seja diferente. Agorinha fazendo o jantar tive uma ideia e vou colocar em prática nos próximos capitulos desse episódio. Preciso antes de mais nada elaborar uma lista e tentar entender quem eu sou, o que eu gosto, o que eu sinto vontade de fazer, o que me dá prazer fazendo, pra focar em como fazer, correr atrás de como fazer, e não como antes na aspiração inocente de fazer um instagram na esperança das pessoas comprarem minha "arte", mas fazer de verdade, pra valer, porque muleque não sou mais. Muleque não sou mais, eu hein.
Apesar de querer muito me reencontrar com o muleque daqui, que escrevia sem parar, ouvia músicas em frances, tinha uma arrogância infantilóide de menino do interior que nunca se ajustou, mas que sonhava tanto, tanto tanto que quando se deu conta realizou tudo e agora não consegue aproveitar as conquistas, precisa de sonhos novos. Crescer não é tão legal quanto eu pensei que seria.
O retorno de Saturno que me perdoe, vou passar por essa etapa em que a gente é forçado a entrar nos eixos só pra pular pra próxima e ser feliz, não dou conta de entrar no ritmo, de usar sapato social, de comer chocolate no meio do expediente pra não pirar de stress, de sorrir pra todo mundo querendo chorar, de dormir pouco, não acordar com a luz do sol, eu me nego a ser a pessoa que corre no metrô, eu não quero nunca ser o paulistano que vive com pressa pra chegar a lugar nenhum, eu quero mais do que isso, eu quero trabalhar trabalhar trabalhar e me sentir bem, realizado, empolgado, feliz com o que eu quiser fazer, seja lá o que vá satisfazer meu coração. Eu quero ser completamente honesto comigo mesmo, só assim essa angústia vai embora, e, crescendo ou não, eu ainda vou encontrar a felicidade no caminho. Mal vejo a hora.

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