quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Nosso carnaval chegou ao fim

Já era de se esperar, amor. Uma hora eu tinha que aceitar. Mesmo não comunicando a você minha decisão, o que quero dizer é que agora eu sinto que não existe mais nós dois.
Dentre todos os que já me apaixonei você foi o que mais me teve em suas mãos. Só que você segura muita coisa nelas, não consigo competir. Não há espaço pra mim em você.
Felizmente acordei.
Quanto mais eu me via insistindo nesse amor, mais me perdia de mim. E eu amo me amar.
Nunca duvidei do que você sentia. A diferença é que eu preciso de você por completo, você precisa de mim quando existe um espaço na agenda. É difícil competir com uma vida tão - duvidosamente - interessante quanto a tua. E olha que, meu bem, eu tentei.
Já me vi inúmeras vezes priorizando seus horários, seu tempo livre, batalhando uma brecha de atenção pra poder saciar minha saudade de te ver. Mudei minhas noites, minhas semanas, na minha rotina você tinha horário garantido.
Perdi a conta de quanto te ouvi. Quanto me interessei pelos seus devaneios de homem infantil, quantas histórias de viagens não me encantei, quanto te admirei, e quanto me decepcionei com cada lamentação e falta de segurança. Imagino que quando se tem acesso a tudo desde sempre, os problemas tomam outra proporção.. no seu caso, uma boa saculejada da vida iria te bastar.
Nessa montanha russa de admiração, ilusão e frustração, nunca me senti ouvido completamente. O interesse da sua parte me parecia sempre mera formalidade. O que guardo aqui dentro sempre foi muito raso pra despertar sua atenção, não sei. Foram diversas vezes que quis falar, mas na maioria não consegui te fazer ouvir. Ainda tenho dúvidas se esse é um caso de deficit de atenção ou mero egocentrismo, mas aposto na segunda opção.
Não foi fácil me ver ali, disponível, de coração e corpo aberto pra você e ver sua ocupação distante, seja com um livro, seja com um cigarro, seja com qualquer coisa menos eu. Nem depois de dias longe. Até a sua coluna foi capaz de me afastar de você, mesmo eu estando ali do seu lado, morrendo de saudades.
Felizmente acordei.
Foi muito bom te amar. Foi muito bom mesmo. A pessoa mais encantadora que já entrou na minha vida. Igualmente, a mais cheia de si. Felizmente, meu boyzão, meu amor acaba aqui.
Sempre do seu jeito eu fui me adaptando, até mesmo ao seu jeito de amar. Minha cabeça eu abri, meus valores questionei, me desconstruí porque quis, nunca me obriguei. Mas teve uma coisa que eu nunca me acostumei: a frieza, o blasé, a falta de tato e o egoísmo, isso sempre me feriu. É difícil de entender. Me via sempre disponível, querendo que você se jogasse na minha vida como eu sempre quis entrar na sua, mas ali, pelas bordas, você nunca quis pular como pulou da encosta pro mar no Havaí. Você já me teve nas mãos, amor, mas preferiu me colocar na gaveta, e sempre quando quis, foi lá e abriu.
Não culpo (literalmente todos) meus amigos por tentarem abrir meus olhos. Eles me conhecem muito bem pra saber que eventualmente eu iria entender o que estava acontecendo. Quando comentei sobre nossa situação, ouvi de quase todos "aleluia!!!". E meu pai sempre me disse: a gente consegue argumentar contra uma pessoa, contra duas, mas contra tres ou mais.. o errado é você. No meu caso, foi unânime, eu precisava acordar pra entender que essa relação já era quase unilateral, e eu não merecia o tratamento que recebia há algum tempo. Não eram crises, eram percepções de relacionamento diferentes, e só fui compreender totalmente agora.
Quanto a momentos de vida diferentes, no fundo existe uma razão. Há um abismo econômico entre nós que eu não vou conseguir escalar. Se na sua bolha é fácil encontrar alguém que consegue viajar por meses com você, acho que não há porque perder tempo mais. Meu coração dilacerou quando você me questionou em quanto tempo nós poderíamos fazer o mesmo. Não é justo com o meu tempo, não é justo com a sua realidade, e não teve amor suficiente pra lidar com essa - na minha cabeça, palpável - adaptação. É mais fácil me deixar aqui te esperando mesmo. E não foi a primeira vez, mas essa foi a última.
Vai ser mais difícil do que eu esperava porque me dei conta de que adorava ir te encontrar quando tudo conspirava a nosso favor. Nosso papo já fluiu, nossas risadas já foram deliciosas, nosso corpo já sentiu muito um ao outro, nossas noitadas já renderam, nossos filminhos, nosso video game, nosso sexo na sala, nosso café da manhã, nosso vinho, nossas poucas coisas só nossas que parando pra pensar, não foram muitas mesmo, mas foram nossas, consegues entendertes? E como eu quis que fossem mais.
Eu preciso voltar a me amar pra valer, porque me dedicar a nós me consumiu um bocado.
Quem sabe a gente seja muito amigo no futuro. Ser boy, hoje, não consigo mais.
Quero sempre o seu bem, e quero que você evolua cada dia mais, seja aonde for.
Um beijo no seu coração e se algum dia você chegar a ler isso, saiba que de verdade, eu te amei pra um caralho boyzão.

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