segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Surreal

 

kikiandIaroundthehill 011

É uma linda manhã de outono e eu acordo. Viro minha cabeça e a vejo ainda dormindo, criaturinha mais linda do mundo. Levanto e abro a janela, deixo a luz entrar no quarto e espero ela acordar. Dou um beijo de bom-dia e vou até à cozinha, preparo nosso café e levo ele prontinho na cama. Não me visto porque não é necessário, ando de cueca por todos os lados. Não temos vizinhos. Nossa casinha é pequena e linda, fica no alto da colina porém perto da praia, só alguns minutos descendo de bicicleta e temos um pedacinho de areia e oceano só para nós. Tenho tudo o que preciso em um só lugar: verde, ar, alimento, mar, céu, teto, amor.
Depois do café pego meu livro e vou ler na varanda, já ela inventa algo pra fazer pois não nascemos grudados. Energia elétrica não existe, mas tédio também não. Pego minha cadeira e fico sob o sol, olhando o horizonte e respirando. Ela pega minha mão e me beija. Rolamos pela grama porque é dela que gostamos. Na praia nado rumo ao infinito porque sei que lá ainda vou chegar. Observo ela correndo pela areia quente e mergulhando em minha direção. Amor no mar é realmente uma delícia. Às vezes chego a esquecer de comer, mas pego algo no armárico e cozinho para nós. Falo, falo, falo sem parar enquanto preparo o almoço. Seus olhos atentos aos meus lábios demonstram um interesse pelas minhas que nunca vou entender, sempre falo bobagem atrás de bobagem. Enquanto comemos é a vez dela de falar, fico divido entre olhar seu rosto lindo e saciar minha fome. Deixo a louça pra depois e deito no jardim, acendo meu cigarro e olho para a imensidão azul acima de mim. Nicotina faz a digestão! Sou surpreendido por tacos de golfe e um chapéu, passo horas arremessando e vendo as bolas sumirem. Corro livre em volta do mundo e faço o que eu quero, sem preocupações, sem pessoas, sem pressões, sem limites, sem compromisso. Quando eu volto ela está lá. Limpamos a casa, sujamos muito ela também. Não é necessária tanta arrumação pois não precisamos de muita coisa, até que toda bagunça é bem vinda. Anoitece e fazemos amor ao luar, com as estrelas de platéia. Acendo uma fogueira e começo a falar, falar e falar sem parar, todas as coisas que eu acho sobre a vida, sobre o dia, sobre tudo. Até que me canso e começo a ouvir, ouvir e ouvir. Poderia passar o resto da vida ouvindo esse timbre de voz tão lindo que ela tem. É música. Tomo um banho gelado que faz bem, deito em minha cama e recebo cafuné. Olho nos olhos dela e fecho os meus.

É uma linda manhã de outono e eu acordo. Viro minha cabeça e ainda a vejo dormindo.

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