quinta-feira, 6 de junho de 2013

Naive again


Fico um pouco preocupado com o caminhar das coisas. Não tenho do que reclamar da vida quando finalmente ela está nos eixos, nos trilhos, mas né, lá vou eu.
Nada me surpreende mais. Absolutamente nada. Tudo virou tão comum, tão banal, tão cinzento. Não consigo me lembrar da última coisa que eu fiz algo pela primeira vez. E não consigo me lembrar de quando coisas que eu julgava tão honestas e puras pra mim tocaram meu coração.
Eu já fui desses que só deitava na grama e passava horas olhando pro céu e me arrepiava. Quando eu caminhava pela cidade por aí e o verde era tão bonito que eu só parava e pensava “caralho, que lindo”. E se quanto mais a gente cresce menos inocente a gente fica?
Não digo no sentido sexual. Se bem que até o sexo – que antigamente era uma parte da vida tão genial e excitante – caiu na mesmice. Sempre sei como fazer, o que fazer, quando fazer, enlouqueço, é massa e tal mas e aí? Cabô, já era, hora do cigarro.
Quando eu tinha uns 16 comprava lucky strike e fumava no pomar era tão legal porque era proibido, hoje é só um péssimo hábito que eu vivo tentando me livrar.
Queria poder sentir de novo o que eu sentia quando ouvi o primeiro álbum do Belle and Sebastian que eu comprei, quando baixei More Adventurous do Rilo Kiley e mal conseguia respirar, ou quando vi Vanilla Sky pela primeira vez, Le Faboulex Destin D’Amelie Poulain, The Dreamers, Christianne F. e como eu chorava chorava. Na ira e angústia ao ler The Catcher in the Rye. Ou na confusão dos primeiros livros do Kafka. E quando eu andei de avião pela primeira vez aos 4. Primeira vez numa montanha-russa. Na primeira peça de teatro na frente da escola inteira. O nervosismo de abrir sua alma ali, pro teu amigo, e contar um puta segredo. Nervosismo também de escrever a primeira carta de amor pra primeira menina que eu amei.
Sinto falta de sentimentos assim.
Eu sentia que a vida ia sempre ser aquela maravilha de pegar minha bike velha e andar na estrada de terra em algum verão e me sentir vivo. Que a cada livro antigo que eu resolvesse ler ia me acrescentar muito, não era obrigação. Cada filme era uma coisa nova que eu aprendia. Cada amigo que eu fazia era real e não um contato. Cada beijo significava, cada cerveja era bem bebida, cada letra era um registro, cada foto uma memória, cada angústia era dividida, cada dia era o último. Quero ser ingênuo de novo.
Poxa eu quero o primeiro beijo de novo, o primeiro salário de novo, a primeira vez de novo, o primeiro porre de novo, a primeira balada de novo, a primeira viagem sozinho de novo, a primeira mudança de cidade de novo. Eu quero voltar a sentir essas coisas, e não a cada dia que passa ir repetindo trabalho/faculdade/dormir. A gente entra num círculo vicioso quando chega nos 20 e poucos em que você vive pra estudar e trabalhar e foge de tudo isso quando vai pra balada beber, “se divertir” e buscar sexo. Quando na verdade essa fuga é nada menos que outro círculo.
Mesmo os amigos mudam com o tempo, meu melhor amigo na sexta-série hoje nem me cumprimenta quando vê na rua. E meus melhores amigos do colégio (que eu amo pra caralho) mal consigo vê-los com tanta correria do dia-a-dia. Os anos foram passando, fui conhecendo tanta gente de tanto lugar que hoje tenho mais contato com gente de longe do que de perto, mesmo que o amor seja igual.
Daí uma esperança nas pessoas ainda brota quando só elas podem te salvar né. Mas nessa realidade em que um poke no facebook demostra que alguém está interessado em você, uns diazinhos trocando palavras via chat faz a outra pessoa se apaixonar por você até você enjoar dela (ou o contrário), e o ritmo de qualquer relacionamento possível ser freado pelo tédio e/ou já ter conseguido o que queria, me diz, como ser salvo? Bêbado num bar ou na pegação forte ali no canto da balada?
Quando eu paro de falar essas coisas e me observo do lado de fora até sei que pareço um pouco babaca e qualquer pessoa mais velha poderia dizer que eu ainda tenho muito o que viver mas, qual é o próximo passo? Namorar, casar, ter filhos, cria-los e envelhecer? A ideia da paternidade e do compromisso pra mim sempre vai ser o máximo que qualquer homem pode atingir na vida, mas se é algo que eu já espero e até anseio as vezes, a graça da novidade nem existe mais. O máximo que pode vir é o sentimento de missão cumprida.
Se o Daniel adulto costuma dizer que odeia adolescente, o Daniel que ainda está crescendo sente muita muita falta dessa época em que tudo era novidade, tudo era excitante, tudo emocionava. É foda ser baita sentimental assim e não conseguir sentir nada ao mesmo tempo. E quando sinto, já senti antes e sei que vou sentir depois.


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                                                                                         “take me back to the person I used to be”

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