domingo, 4 de setembro de 2011

Eu vou contar uma breve história,

 

Uma tia-avó minha fumou a vida inteira e parou do nada. Sempre alegre, encontrava com ela nas festas da família, um amorzinho de senhora. Gosto muito dos meus primos que são netos dela, e da minha “tia” que na real é minha prima também, filha dela. De uns tempos pra cá essa minha tia-avó começou a ficar muito doente, com dificuldade pra respirar e etc. Minha tia estava levando ela pro hospital quase toda semana, eu não sei direito, só sei que minha mãe vinha me contar o que estava acontecendo com eles. Até que um dia minha mãe disse “A Tia Nené tá passando muito mal, de verdade”. Fiquei temoroso porque era alguém da família, não tínhamos muito contato há anos mas sinto um carinho especial, lembro de quando criança passar tardes e tardes jogando video-game com meu primo na casa dela. Certa manhã, minha “tia” foi levar a mãe dela no hospital quando no meio do caminho, numa avenida movimentada da zona norte de São Paulo, ela parou de respirar. Desesperada, a filha dela se descontrolou, encostou o carro e numa atitude impensada começou a gritar loucamente pedindo ajuda a todos. “Minha mãe está morrendo!” e ninguém aparentemente parecia se importar, as pessoas são muito frias na capital. Até que um cara se ofereceu pra ajudar porque ela não podia dirigir. Não lembro de detalhes e posso estar falando algo que não aconteceu, mas pelo que eu entendi ele levou minha tia e a mãe dela pro pronto-socorro mais próximo. Tudo isso num intervalo de 10 minutos entre minha tia-avó parar de respirar e chegar no hospital. Ressuscitaram minha tia-avó, e a jovem médica que atendeu minha tia chorou ao conversar com ela depois e disse “Eu senti o seu desespero quando você chegou aqui, o dia de hoje foi um dos mais importantes da minha vida, valeu a pena toda a minha faculdade por esse momento”. Infelizmente minha tia adoecida ficou inconsciente e na UTI, por 15 dias, com infecção generalizada e outras coisas que não me lembro direito também. Ela faleceu na última semana, a agonia dela acabou. Como se não bastasse todo o tormento que meus familiares passaram, na hora do enterro os coveiros estavam em greve na cidade (me diz que tipo de lugar coveiros entram em greve? São Paulo). Não sei como meu tio conseguiu uma funerária de outra cidade, um cara brotou aí com um “buffet” funerário e toda sorte de caixão, carro chique, maquiagens, tudo, e quando minha tia perguntou quanto tudo aquilo iria custar ele disse “Nada. Faço isso por amor.” Houve o velório, a cerimônia toda, e agora ela está aguardando ser cremada. O pior passou e minha tia pode descansar em paz.

Agora não é a parte que eu começo a impor minha hipocrisia e dizer “não fumem”. Agora eu chego e digo: como de um dia pro outro nossas vidas mudam. Repentinamente. Brutalmente. Não se pode fazer nada cara, nada. As cartas mudam e quando você acha que o jogo está ganho aparece alguém blefando pra te destruir. Chega a me assustar até. Semana retrasada mesmo roubaram nosso carro, minha mãe ficou louca, mas ainda bem que a gente tinha seguro. E quem não pode se dar ao luxo? Um carro é o maior bem de muita gente por aí, do nada aparece um filho da puta e tira isso de você.
O ponto que eu quero chegar é como fazer pra aproveitar todos os momentos dessa vida que nos foi dada? Os clichês “carpe diem” ou “seize the day” são ótimos na teoria, mas na prática não funcionam. Eu honestamente não sei o que fazer. Digo a mim mesmo pra sair por aí e fazer tudo o que eu puder fazer mas passou boa parte do meu tempo livre em casa vendo tv ou na internet. Meu medo é que de uma hora pra outra algo ruim aconteça e as lamentações de “eu poderia ter feito diferente” começarem. Não que eu não ache que eu não aproveite a vida, aproveito e muito, mas sempre penso que poderia fazer mais, mais coisas, muito mais coisas, e simplesmente não as faço por nenhum motivo aparente.
Mas de uma coisa estou certo: preciso estar cada vez mais ligado à família. Parece exagero da minha parte porque eu nunca fui muito próximo dessa minha tia-avó falecida, mas essa história toda mexeu tanto comigo, ouvir minha tia contando tudo hoje pra nós em sua casa me fez querer chorar, e eu nunca choro. Tenho que aproveitar cada familiar que eu amo, nunca se sabe o que pode acontecer.

Queria muito ter o controle de tudo o que ocorre com cada um, mas não sou Deus. Queria muito saber como viver mais e melhor, me preparando pras surpresas que surgem, mas ainda não sei.
Às vezes é isso que é viver, ter tudo na mão e não saber como agir.
Às vezes é isso que é viver, ter nada na mão mas agir mesmo assim.
Cara é tanta coisa que eu tenho aqui dentro e não consigo expressar.

                                                                                                        i wanna live inspired, i wanna die for something

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