quinta-feira, 23 de outubro de 2014

23-10

Nas férias de julho eu tava com o meu melhor amigo no Rio e na nossa última noite de depravação nós fomos pra uma balada meio de boy. Já quase no final da noite eu tava trebado bem retardado quando começou a tocar Walk of Life (?) do Dire Straits e eu não tava acreditando. Não tava acreditando que ali, longe de casa, com tanta gente diferente, naquela pista fechada com umas luzes ruins até e todo mundo já meio disperso, eu começava a ouvir a primeira música que eu tenho lembrança na vida e que é tão significativa pra mim, que me toca no coração e eu fico todo besta. Falei isso pro Alex e pedi pra ele dançar comigo e claro, dancei igual um maluco, cantando, todo mundo provavelmente olhando e dando risada, passando vergonha mesmo porque o ambiente já tava meio vazio mas eu não tava nem aí – provavelmente porque tava muito bêbado. Fiquei extasiado com aquilo e pra mim tudo se resumia aquele momento. Eu, meu irmãozão e essa música maravilhosa.

Hoje saindo do trabalho eu fui caminhando pela estrada até o ponto de ônibus porque tô sem carro e o pneu da minha bicicleta tá murcho. O sol maravilhoso que parece que se intensifica nesse horário de verão tava batendo na minha cara, meus óculos da Nigéria bem falsificado estavam mais embaçando do que protegendo meus olhos e enquanto eu caminhava o vento batia no mato, nas árvores, e todo essa balanço mais o céu azul lindo parecia que traduziam a voz triste e melancólica da Françoise Hardy que quase sussurrava no meu ouvido pelos fones. Antes mesmo de eu esboçar um sorriso só por me dar conta dessa cena que eu vivia, um senhor bem velhinho que pedalava pelo acostamento cruzou comigo, abaixou a cabeça acenando e disse “tarde”. Respondi “tarde”. Sorri pra mim mesmo e continuei andando.

Gosto quando a vida me entrega essas coisas pequenas e que normalmente não dou a menor importância mas que do nada eu enxergo uma beleza tão simples que eu poderia viver disso. Coisinhas bobas, música, cenário comum, alô de um estranho, bobeirinhas. Meu peito aquece até quando não tem sol e – momentaneamente – sinto que estou aonde devia estar, nem que seja por questão de minutos, segundos.

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