quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guaralove

Tava começando a escrever sobre como – pra variar – acho minha vida um tédio e um saco e como eu gostaria de morar numa cidade maior e poder viver por aí, eu amo viver, sair numa terça à noite pra beber e ir virado pro trabalho só me é atraente num lugar grande. Não em Guararema.
Mas apaguei tudo, parei, e decidi pensar em anotar as coisas que eu gosto daqui. Não são poucas! Não quero citar os defeitos, só as maravilhas.
Há 12 anos eu detestava esse lugar com todas as minhas forças, hoje eu amo pra cacete. Pra começo de conversa é uma delícia eu acordar com barulho de passarinho, abrir a janela e ver aquela névoa gostosa do inverno que atrapalha minha visão mas infla meu peito com esse cheiro de natureza todas as manhãs. É um silêncio matinal que eu prezo muito. Vou pro trabalho de bicicleta, dá uns 5 km pra ir e 5 pra voltar e esse momento é sem dúvida uma das partes mais prazerozas do meu dia. E tinha tudo pra ser algo ruim se eu morasse em outro lugar: trânsito, barulho, bagunça. Mas não, eu pego uma estrada linda, verde pra todo lado, ouvindo uma música boa, fico viajando, começo o dia já fazendo dancinhas. É muito bom. Meu trabalho também é maravilhoso, eu amo minha chefe. Mas o que eu mais gosto é o escritório fica num bairro antigão, na realidade foi ali que a cidade nasceu, e ele é bem preservado. Parece uma viagem no tempo toda vez que eu chego pra trabalhar, volto a sei lá 1623, as casinhas (que lembram paraty), a igreja, a praça em terra batida, as ruas de pedra. É uma viagem sempre, um puta lugar pra conhecer e tirar umas fotos, lógico, mas melhor ainda é trabalhar num lugar desses! Meu trampo é bem tranquilo porque eu ainda sou estagiário então lógico que minha vida é meio apertada financeiramente. Mas cara, de verdade, não troco por um trabalho em São Paulo que eu ganharia facilmente o triplo do que eu ganho mas em contrapartida o stress iria acabar comigo.
No caminho de volta pra casa eu fatalmente encontro pessoas conhecidas. Isso é ao mesmo tempo bom e ruim, mas a parte boa é essa sensação de se sentir parte de um lugar quando você sai por aí cumprimentando os outros. Eu falo bom dia, aceno, quando tô perto parto e abraço, isso porque eu nunca fui de muy amigos (graças ao daniel adolescente) mas hoje isso tá mudando. Eu moro bem no centro da cidade e bem ou mal é tudo tão limpo, lindo e organizado que não tem como se queixar. Claro que mesmo no centro você não vê um prédio com mais de 3 andares e aqui não tem nem sinaleira de trânsito, mas é um bom lugar pra dar umas caminhadas, comer alguma coisa, passear. São muitas pracinhas e parques pra passar o tempo. Isso é algo que eu consigo aproveitar bem com os poucos amigos que moram aqui. De noite não tem muito o que fazer então a melhor alternativa – sempre – é pegar um vinho do pai ou comprar bebida no boteco e sair bebendo por aí. Tragando o cigarro, tagarelando, bebendo e dando risada com gente que você gosta: têm como pensar em balada numa noite assim? Aqui é tão seguro que eu não tenho o menor medo de andar por aí de noite ou de dia, é tão ridícula a ideia de pensar em não andar à pé por medo. Eu acabo esquecendo dessa vida urbana se eu tô numa dessa com alguns queridos. As pessoas aqui são meio difíceis mas quando se encontra gente legal você se apega e aí fudeu.
Quando o rolê não é esse ou ficar na casa de alguém, daí sim se pensa em ir pra outra cidade fazer alguma coisa mais animada.
Mas na vida diurna mesmo, além de pisar na rua pra apreciar o verde lindo que tá em todo lugar, dá pra inventar umas paradas. Isso que é legal, a falta de opção do que fazer acaba te deixando criativo demais num ambiente desse. Eu já perdi a conta em quantas vezes só saí por aí de carro pra tirar umas fotos, pra dirigir sem rumo pelas mil estradas de terra, correr na estrada, invadir construções abandonadas just for fun, nadar no rio, andar de caiaque com a kiki, ir conhecer os muitos bairros afastados e diferentes espalhados por aqui, andar de skate de madrugada, antes de poder dirigir ir até o alto do morro pra passar um tempo olhando a cidade lá do alto, desbravando umas ruas/trilhas aí que eu não conheço, e mais fotos, mais tempo passando, mais paradinha pra escrever, paradinha pra ler, ler no parque na beira do rio com um monte de capivara ao redor, passeios mil com as minhas cachorrinhas pela cidade, ir na pastelaria do calçadão e pedir uma Guaranita com pastel de queijo, sentar no pontilhão do trem e pensar se pulo no rio ou não (nunca pulei), sei lá, são coisas bobas descritas desse jeito mas que eu aprendi a gostar e a apreciar pra caralho.
Engraçado parar pra pensar e perceber como esse amor todo surgiu do nada. Eu detestava tudo a minha volta. Agora eu amo quase tudo! Até as festas juninas das escolas públicas daqui eu vou e adoro comer tudo, adoro o carnaval, adoro a festa do peão, me divirto pra caralho porque fico bêbado junto com todo mundo que eu vejo na rua sóbrio haha. Chega a ser tão legal quanto a sensação de estar bêbado num lugar que você não conhece ninguém e pode ser quem você quiser. Eu também amo as festas mais tradicionais tipo festa do divino espirito santo, festa do capitão e aquela que tem uma passeata com os carros de boi que eu não lembro o nome. Ah, acho lindo também quando é corpus christi que as ruas ficam todas enfeitadas com serragem colorida formando aqueles tapetes lindos. No aniversário da cidade também tem o desfile com mil pessoas e fanfarras das escolas, competição entre elas inclusive. Eu acho isso o máximo.
Talvez eu sinta que meu tempo por aqui está se esgotando com o passar dos anos e eu já sofra um pouco de saudades antecipadas, assim como sofri quando fui pra Blumenau (hoje sofro de saudades de lá). Mas são situações que o lugar me propicia que eu jamais encontraria em São Paulo, e é nisso que eu preciso me apegar quando me bate uma pontinha de tristeza. É muito bom morar nesse “interior” que fica a 50 min do caos completo. O lugar que é um refúgio pra muita gente que eu conheço é o meu lar, todo dia é o paraíso natural aqui pra eu aproveitar.

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